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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

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Uma viagem da Venezuela até à Arábia Saudita

A última semana brindou-nos com uma reforçada ofensiva mediática contra o governo venezuelano ou o “regime de maduro” nas palavras dos media portugueses. É engraçado que não há um jornal, não há uma rádio, não há uma televisão neste país que diga algo de diferente sobre o tema, que aponte qualquer defeito àquela oposição sustentada pelos states e pela CIA. Pelo contrário, todos afinam pelo mesmíssimo diapasão.

 

O que pensar disto? O que pensar que não que aquele Maduro é mesmo um louco que está a desgraçar aquele país? Não interessa que o Papa, insuspeito de ser comunista, por definição do seu próprio cargo, tenha apontado o dedo por mais que uma vez à oposição classificando-a como a grande promotora da instabilidade nas ruas da Venezuela e acusando-a de não querer a paz. Não interessa que José María Aznar, antigo primeiro-ministro espanhol conservador — também por isso insuspeito de ser comunista ou qualquer coisa afim — tenha, enquanto mediador do conflito, acusado a oposição de não querer chegar a qualquer acordo para colocar um fim à violência nas ruas. Nada disto interessa. Os media, como cães de caça bem mandados, têm um objetivo e perseguem-no até ao fim.

 

É engraçado que, em Portugal, apesar da grave crise que nos afetou em 2011, chegámos mesmo a um ponto em que, nas palavras dos nossos governantes, não havia dinheiro para pagar os serviços públicos até ao final desse ano, nunca os supermercados deixaram de ter produtos e de ter as suas prateleiras repletas. Isto do retalho é uma coisa engraçada, com efeito. Não é por haver menos dinheiro que os produtos deixam de ser comercializados. Podem é vender-se mais lentamente. No entanto, na Venezuela os supermercados estão vazios. Porque será? Mas não se preocupem os burgueses médios de ascendência portuguesa que por lá andam a esconder os seus produtos em armazéns. Não se preocupem. Podem continuar a especular os preços e a causar o caos nesse país chamado de Venezuela porque o nosso governo, o mesmo que pouco se importa que em Portugal as grávidas sejam despedidas, que os trabalhadores sejam constantemente humilhados pelos patrões como no caso daquela trabalhadora daquela corticeira cheia de prémios de excelência, esse mesmo governo vai em vosso auxílio e não deixará que o governo venezuelano vos faça mal.

 

É que isto da Venezuela é uma situação complexa. Como é que um país que, do dia para a noite, se vê privado de metade das suas receitas, por uma inexplicável descida dos preços do petróleo — ah, mas a gasolina continua caríssima! —, pode sobreviver? Tivesse a Venezuela o proveito da fama que tem e tomado conta dos meios de produção e esta brincadeira teria sido diferente...

 

Mas essa inexplicável descida dos preços do petróleo... deixa-me a pensar... e esta semana a Alemanha juntou-se aos Estados Unidos como fornecedora de armamento à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos. Hum... Será pagamento pelos serviços prestados para baixar os preços do precioso combustível fóssil?

 

Será?

 

Há poucos dias, um grupo de terroristas alegadamente financiado pela Arábia Saudita, Emirados e Israel atacou o Irão. Pois é... O Irão é que é aquele país mau, terrorista, não é? Os Estados Unidos são os democratas, certo? Os alemães são os íntegros? Na Arábia Saudita as mulheres não usam burca? Ai usam? Ah! E a Venezuela, por mais eleições democráticas que promova, é uma ditadura, de acordo? Que rica lógica que para aqui vai! Que rica lógica que esta comunicação social putrefacta nos vende! Lavagem cerebral da melhor!

 

 

publicado às 21:15

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