Uma nota sobre a Quadratura do Círculo passada
José Pacheco Pereira, secundado por outras imbecis vozes da sociedade — refira-se —, disse que Mário Soares foi o percursor da Geringonça. Baseia-se no facto de, já perfeitamente senil e completamente a leste da vida política ativa, Soares ter promovido um destes encontros pueris de “esquerdas” que resultam num punhado de boas intenções e de frases que mais não são que futilidades impactantes.
Toda a gente sabe que aquilo que um homem faz ou diz às portas da morte não deve ser muito valorizado. Que o diga Nietzsche. Que o digam tantos outros. Pacheco Pereira, pelos vistos, não adotou semelhante bom senso no seu raciocínio.
Dizer uma coisa destas, bem entendido, é realmente uma forma de auto-desconsideração intelectual. Com efeito, falamos de Mário Soares, o fundador do Partido Socialista que “meteu o socialismo na gaveta”; o Primeiro-ministro que escolheu governar com o CDS (1978) — isto quando o CDS era uma encapotada manifestação fascista no novo regime democrático e não a agência de advogados relativamente inofensiva que é hoje —; o mentor da UGT que promoveu a divisão do movimento sindical em Portugal e cujas repercussões ainda vemos claras nos dias de hoje; entre outras, muitas outras ações totalmente reacionárias.
Soares, percursor da Geringonça? Com o CDS ali à mão de semear para uma coligaçãozita? Nunca na vida!
Eu, que até gosto de ler e de ouvir Pacheco Pereira, fiquei admirado com tamanha alarvidade. Compreende-se, no fundo: sendo um pária na sua área política, necessita sempre de, aqui e ali, semear simpatias noutras áreas. É uma pena que o tenha feito abdicando das suas usuais seriedade e reverência para com a História.