A propaganda está pela hora da morte
Para um evento de mera propaganda governamental capitalista, o Web Summit é um pouco caro, não?
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Para um evento de mera propaganda governamental capitalista, o Web Summit é um pouco caro, não?
Abriu ontem o Lisbon Web Summit, “o maior mercado tecnológico europeu”, nas palavras da própria organização. O Web Summit pode ser resumido como uma cimeira para fazer negócios com não se sabe bem quem, sobre não se sabe bem o quê, desde que envolva tecnologias consideradas como “novas”, qualquer coisa relacionada com a web, porque fica tão bem o prefixo acoplado seja a que palavra for. De seguida, vou à web casa de banho, fazer a minha web higiene, depois vou comer o meu web almoço e, por fim, vou no meu web automóvel até ao meu web trabalho. Vai ser um web dia!
Uma visita ao site da Lisbon Web Summit não nos deixa mais esclarecidos. Esta cimeira que também é um mercado, pelos vistos, marca bem a imagem do mundo ocidental contemporâneo: a um nome catita, modernaço, adicionamos um punhado de chavões repetidos até à exaustão, como “empreendedorismo”, “dinamismo”, “sinergia” e outros que tais, bem como um saco furado repleto das melhores intenções, mais propaganda, propaganda, toneladas de propaganda, para, no final do dia, produzir o quê, exatamente?
Lanço um repto a este governo para que, discorrido o tempo que se considere suficiente e ajustado, apresente um relatório cuidado e documentado sobre os “negócios” que afinal surgiram a partir desta Lisbon Web Summit, assim como o retorno efetivo que o país recebeu de cada um deles — isto é muito importante.
É que, sem um tal exercício, esta cimeira de nome pomposo não é mais que fogos de vista, um fogo de artifício muito caro, suportado — suponho— pela Câmara Municipal de Lisboa e pelo Governo de Portugal. É importante que esta cimeira não seja mais que um passeio turístico à nossa capital patrocinado pelo estado a um conjunto de indivíduos que pouco ou nada produzem a não ser o seu discurso fútil e vazio.
Há provincianismo a mais nesta sociedade. Há demasiada tacanhez a afetar o nosso pobre quadro mental. Só assim é que é possível fazer-se uma Lisbon Web Summit, isto é, uma cimeira sobre literalmente coisa nenhuma.
De sublinhar a ironia da coisa: na abertura da cimeira, o apresentador foi traído por uma falha do... wi-fi. Como que por um divino escárnio, o tão importante prefixo web esvaziou-se de substância até à última gota.
É interessante, contudo, observar o rejubilo com que o atual governo acolhe esta iniciativa que, em rigor, pertence integralmente ao anterior governo. É interessante ouvir de viva voz o nosso Primeiro-ministro, num êxtase só, empregar a palavra “empreendedorismo” dez vezes na mesma oração. Afinal o que ele também quer é empreendedorismo! O que ele quer é startups! Palavra de honra que me fez lembrar o seu antecessor. Costa, Coelho. Coelho, Costa. Tão iguais, tão iguais eles são...
É mais uma em abono do apoio da esquerda a este governo.
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