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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Avante 2020

Gosto muito da Festa do Avante!. Gosto mesmo. Considero a Festa como o evento cultural e político mais significativo do panorama nacional. Já o escrevi aqui, não mudo de opinião. A Festa é uma realização que deve orgulhar todos os comunistas que, durante três dias, mostram ao mundo, pela prática, que uma outra sociedade é possível, que o sonho comanda a vida e que a chama da utopia tem que ser mantida bem viva para não deixarmos de caminhar no sentido do progresso e da fraternidade. Adoro viver aqueles três dias da Festa do Avante!.

 

A edição deste ano, um ano que continua fortemente marcado pela pandemia, tem estado envolta em polémica motivada por motivos óbvios relacionados com a saúde pública e alimentada por outros, também óbvios e permanentes, relacionados com a guerrilha política habitual de cariz anticomunista primário.

 

É de sublinhar que, este ano, a realização da Festa do Avante! tem tido mais cobertura e atenção mediáticas do que todas as outras quarenta e tal edições já realizadas desde 1976 e tal facto promete aprofundar-se ainda mais com a realização propriamente dita da Festa, antevendo-se uma minuciosa observação dos espaços da mesma em busca de possíveis más práticas no contexto da saúde pública.

 

Não obstante tudo o que foi escrito acima, a minha posição é de não concordância com a realização da Festa do Avante! neste ano de 2020. Não concordo por dois motivos fundamentais.

 

Primeiro, por uma razão de saúde pública. A Festa representa uma concentração de muitas pessoas, não interessa se são cem mil, trinta e três mil, se são mais ou se são menos. São muitas pessoas. É verdade que o espaço é amplo, e ainda foi mais aumentado este ano, mas o simples bom senso, para além de qualquer diretiva da Direção Geral de Saúde, devia inibir a promoção de uma festa com tanta gente, estando o país, particularmente, na antecâmara da segunda vaga do vírus, como já está a acontecer no resto da Europa.

 

Acresce, em segundo lugar, que o lema da Festa é a fraternidade, o convívio intergeracional, a conversa, o debate, a troca de experiências, a manifestação dos sentires e das emoções. Ainda que, por absurdo, fosse possível cumprir um religioso distanciamento social e todas as normas e mais algumas, em que é que resultaria a Festa do Avante!? Será que vale a pena a Festa ser realizada, assim, a qualquer custo, sem o poder partilhar de um abraço ou de um beijo, de sorrisos escondidos atrás de máscaras, despida dos seus mais íntimos valores, da sua razão de ser?

 

A impressão que transparece é que sim, que a Festa tem que ser realizada a qualquer custo e tal não será alheio ao facto da Festa se ter tornado, com o passar dos anos, no porquinho mealheiro do Partido Comunista Português e de essa valência, natural numa realização como esta, ter vindo a assumir preponderância no orçamento do partido, mais a mais com os fiascos eleitorais sucessivos e os buracos financeiros correspondentes.

 

Claro que se pode sempre argumentar com a incoerência que impera em todo o país, particularmente desde a retoma pós-confinamento, no que diz respeito ao combate à pandemia, desde as praias aos concertos, passando pelos transportes públicos. No fim de contas, porém, qualquer partido político deveria assumir a responsabilidade de fazer o mais correto e dar um exemplo de prudência aos seus militantes, simpatizantes e a todos os cidadãos em geral. Não se justifica um erro com outro. É tão básico quanto isto.

 

Pedia-se, pois, mais a um partido com a história e as responsabilidades do PCP. Mas o PCP não só decidiu enveredar por outro caminho como ainda decidiu fazer uma gestão da coisa absolutamente lamentável, mandando números aleatórios para o ar, omitindo informação e, sobretudo, contribuindo para a politização do assunto. Defender, por exemplo, que a realização da Festa é imperativa para a defesa dos trabalhadores é, no mínimo, pouco sério. Ao PCP exigia-se uma posição organizada, transparente, coordenada com a lei e com a DGS, sem arrogância no discurso, sem vitimizações, sem politização. O PCP fez tudo ao contrário.

 

Nota final para uma realidade que parece ter vindo para ficar mas que não deixa nunca de me causar espanto. Não obstante a frente de críticas esperadas à posição do PCP vinda da direita, é surpreendente observar certos comentadores de direita, de repente, a fazer a defesa do PCP. Já ouvi dois, daqueles mesmo à direita, a dizer que o PCP é muito responsável e desfazendo-se em outros elogios ao partido. Para mim isso é sempre mau sinal. Estarão eles incumbidos de tentar salvar a muleta de governação do PS? Ao que nós chegámos...

publicado às 20:49

Na antecâmara de um debate

“Julgo que nenhum sistema pode avançar com a eutanásia sem garantir que opera cuidados paliativos de modo irrepreensível.”

 

Começa assim um artigo de opinião intitulado A eutanásia assinado pelo escritor Valter Hugo Mãe no Jornal de Notícias. O título é enganador. Parece que se refere a uma eutanásia em especial, ou a uma particular forma de aplicação da mesma, mas não, refere-se à eutanásia em geral. O artigo não é longo e tem outras frases, ideias ou conceções que deviam ser discutidas ao detalhe mas façamos o esforço e quedemo-nos nesta primeira frase. Leiamos outra vez:

 

“Julgo que nenhum sistema pode avançar com a eutanásia sem garantir que opera cuidados paliativos de modo irrepreensível.”

 

Os escritores têm, frequentemente, a obsessão das primeiras frases que abrem os seus livros, que apresentam as suas histórias. Nelas, perdem muitos dos seus dias e, já depois de concluída a obra, a elas retornam para limá-las, para alindá-las. A primeira frase é como que uma primeira impressão. Não existe uma segunda primeira impressão. Não existe uma segunda primeira frase. Daí a sua importância para um escritor.

 

Pelo exposto, e descontadas a rotina e a pressão de ter que produzir opinião regular num jornal, devemos valorizar esta primeira frase do artigo de opinião de Valter Hugo Mãe e não menosprezá-la, não menorizá-la, não desculpabilizá-la, pois o autor terá, seguramente, investido muito de si próprio na sua construção e conceção.

 

Passemos, pois, uma vez mais, os olhos sobre a dita:

 

“Julgo que nenhum sistema pode avançar com a eutanásia sem garantir que opera cuidados paliativos de modo irrepreensível.”

 

A frase encerra em si dois argumentos essenciais. O primeiro é que não devemos legislar em função da sociedade real mas, pelo contrário, em função do nosso ideal de sociedade, da sociedade que coletivamente almejamos, se é que isso seja coisa com existência definida. O segundo é que a eutanásia se esvazia de sentido para o indivíduo que a reivindica se este tiver acesso a uma excelência de cuidados paliativos.

 

Estes dois argumentos não têm nenhum sentido.

 

Reparem que o primeiro argumento, o da sociedade idílica, pode ser aplicado a qualquer lei que se aprova. Pode ser aplicado ao aborto, por exemplo, querem ver?

 

Julgo que nenhum sistema pode avançar com o aborto sem garantir que todas as mulheres detêm as melhores condições económicas para ter as suas gravidezes não desejadas e sem garantir que, por terem esses filhos, não serão prejudicadas nos seus trabalhos, nas suas carreiras ou nas suas vidas pessoais.

 

Veem? É fácil. Outros exemplos:

 

Julgo que nenhum sistema pode avançar com penas de prisão sem garantir que todos os cidadãos nascem iguais, têm as mesmas oportunidades ao longo das suas vidas e são tratados com equidade pelo governo e pelo sistema de justiça.

 

Julgo que nenhum sistema pode avançar com lares de terceira idade sem garantir que todas as famílias têm as condições económicas e de flexibilidade laboral para tratar e cuidar dos seus idosos e permitir que estes vivam o resto das suas vidas com os seus.

 

Julgo que nenhum sistema pode avançar com creches sem garantir que todas as famílias têm as condições económicas e laborais para poder ter os seus filhos em suas casas até aos quatro, cinco anos, idade em que devem começar a ir à escola.

 

Julgo que nenhum sistema pode penalizar ou julgar um indivíduo que agride por desespero um médico no hospital sem garantir que não há filas de espera de mais de três horas e de que há médicos de várias especialidades para atender todos os utentes.

 

Podia continuar com isto o resto do dia. O argumento é parvo. Já deu para perceber. E isto, vindo de mim, um utópico inveterado, é dizer muito. É que a questão não está na utopia, esse horizonte que existe simplesmente para nos ajudar a caminhar e a existir, como dizia Galeano. A questão está na realidade, numa realidade à qual necessitamos de responder no dia de hoje e não no dia de depois de amanhã. De que valem os nossos mais bem intencionados ideais, níveos de moralidade, quando as mulheres, às centenas, morriam em vãos de escada a tentar abortar sem condições e sem apoio? De que valem os ideais de como as coisas deviam de ser se, todos os anos, centenas de pessoas morrem na maior das agonias, dores que não conseguem ser aliviadas, ceifando lentamente toda a humanidade que detinham, deixando uma última imagem de desespero e de definhamento brutal sobre vidas inteiras vividas com orgulho e coragem, feitas em ossadas mirradas e desfiguradas? De que valem os nossos conceitos ideais perante isto? Não valem nada.

 

Sim, devemos avançar no sentido que consideramos correto, mas também temos o dever de tentar corrigir, remediar, minorar o que, por ora, parece ser inevitável. Esse é também o nosso dever e devemo-lo assumir sem rodeios e sem nos refugiarmos em conceções idílicas. Os ideais existem para servir os povos e não, não estão acima das pessoas.

 

O segundo argumento, o que dá a entender que a defesa da eutanásia apenas existe devido à inexistência de cuidados paliativos, tem ainda menos sentido. Quando se fala em cuidados paliativos o cidadão médio imediatamente imagina um conjunto de tratamentos ministrados ao doente que resulta na remoção ou num minorar considerável da sua dor e providencia um final de vida calmo e em paz. É importante que se diga ao cidadão médio que tal conjunto de tratamentos não existe, que esse unicórnio chamado de cuidados paliativos é precisamente isso: um ser imaginativo plantado na sua consciência.

 

A um doente terminal administra-se morfina para as suas dores, aumentam-se as doses até ao ponto em que não é possível aumentar mais, porque o corpo não aguenta, e, a partir desse momento, o doente sofre das dores mais insuportáveis que é possível imaginar porque não há mais nada a fazer. É uma descrição simplista, eu sei, mas é a realidade. A realidade é simples. Que os hospitais deviam ser dotados de mais meios para providenciar um melhor fim de vida a estes doentes, claro que sim. Que os cuidados paliativos não são nenhuma panaceia que resolva o problema de muitos doentes, claro que não, claro que não são.

 

A discussão sobre a problemática da eutanásia que se avizinha parece estar lançada sobre estes dois pilares: conceções idílicas que em nada concorrem para a resolução do problema e conceitos imaginativos que prometem o que não podem fazer. Para entender isto, todavia, seria necessário uma sociedade mais religada, mais próxima dos seus e dos seus vizinhos, mais familiarizada com a dor, com a doença, com a morte e com o fim. Mas não é bem essa a sociedade que temos. Vejam bem: julgam-se eternos aqueles que mandam e que ditam as leis e aqueles que os seguem também. Julgam-se eternos todos eles. Viverão para sempre!

publicado às 16:16

O escape de que precisamos para continuarmos a viver como vivemos

Guardarei para sempre as palavras de Greta Thunberg à chegada a Lisboa, vinda das Américas, depois de atravessar o Atlântico de barco:

 

Queremos que as pessoas no poder façam o que tem que ser feito.

 

Foi qualquer coisa assim, perdoem qualquer coisa na minha tosca tradução. A sua natureza rudimentar não impede, todavia, a compreensão do seu conteúdo: queremos que as pessoas no poder (the people in power) façam o que tem que ser feito (do what has to be done).

 

São palavras que compõem e se destacam num discurso redondo, que se justifica a si próprio e que não contém rigorosamente nada. Exige-se às “pessoas no poder” que “façam o que tem que ser feito”, seja lá o que isso for, porque alguma coisa tem que ser feita e porque as “pessoas no poder” podem fazê-lo, porque estão no poder, provavelmente. “O que tem que ser feito” não é dito. “As pessoas no poder” são tantas e tantas que confere à afirmação uma generalidade ainda maior. Muitas — das “pessoas no poder” — abraçam Greta e discursam com ela nas muitas ocasiões em que Greta fala. Também vimos isso em Lisboa.

 

Por não dizer nada, este discurso é extremamente poderoso. São palavras que representam milhões e milhões, uma sociedade de inconsequentes, de ignorantes, de gente que fala simplesmente porque pode mas que não acompanha o discurso com qualquer vestígio de conhecimento, de inspeção ou raciocínio lógico. Se o fizessem, havia muita coisa para pôr em causa, muitos inimigos reais ganhariam forma e deixar-se-ia de falar nas “pessoas no poder”. Falar-se-ia deste modo de vida, do consumismo, na sobre produção e sobre exploração dos recursos do planeta, nesta economia de acumulação de lucros e onde as pessoas são apenas ferramentas descartáveis e, enfim, de um momento para o outro, houvesse, repito, um mínimo de células cinzentas a trabalhar em conjunto, e todo o sistema capitalista mundial que governa as sociedades seria posto em causa.

 

Infelizmente, pedir às massas populares que façam um melhor uso do seu intelecto do que o que é exigido para jogar joguinhos repetitivos no smartphone ou no tablet é pedir demais, é almejar a utopia. E, deste modo, Greta Thunberg, em vez de ser o símbolo de uma juventude mais interveniente e que exige fazer parte do pulsar das sociedades, reduz-se simplesmente a uma advertiser, a uma vendedora — uma excelente vendedora — de carros elétricos, ao serviço dos interesses momentâneos do capitalismo, esse mesmo que destrói diariamente os nossos recursos e o nosso planeta.

 

Não tenho nada contra Greta Thunberg. Absolutamente nada. Aliás, ao contrário de alguns que começam agora a desiludir-se com o percurso da jovem, eu nunca esperei nada de uma rapariga de 16 anos que já não frequenta uma escola há sabe-se lá quanto tempo. Eu não espero que uma rapariga de 16 anos, que tem absolutamente tudo a aprender, me ensine a viver a vida, me dê princípios e me diga o que fazer ou o que é certo ou errado. Não. Desculpem lá. Bem sei que isto de pôr a juventude a mandar nos adultos, os filhos a dizer aos pais o que fazer está muito na moda, mas não, não compro. Isto está tudo ao contrário.

 

Mas a aclamação da Greta não se explicará com apenas um argumento, será, antes, uma mistura de duas ou mais coisas. Porque se a Greta gritasse algo muito mais consequente como «Abaixo o capitalismo», a sua epopeia terminaria ainda antes de começar, porque ninguém quer esse tipo de conversa, porque todos gostamos muito do capitalismo, de um telemóvel novo por ano e de todas as outras gadgets e das Black Fridays, das febres de comprar necessidades que não tínhamos ontem. A Greta, no fundo, é aquele escape de que precisamos para nos sentirmos melhor. É completamente segura, não ofende, nada de mal acontecerá, nenhuma revolução a sério surgirá dali, mas faz-nos sentir bem, limpa-nos a consciência, dormimos melhor à noite. Afinal, é uma menina que está a tentar salvar o mundo, não é?

publicado às 13:19

Nostalgia do regresso ao futuro

 

Neste fim-de-semana que passou revi todos os filmes da trilogia Regresso ao Futuro. No final da maratona, não pude deixar de sentir uma nostalgia à flor da pele.

 

Na década de oitenta havia um certo espírito de audácia, de desafio, de sonho, que pairava no ar, que se respirava a plenos pulmões. Estou seguro disto que escrevo porque me lembro bem da doçura desse ar, do sorriso com o qual olhava em frente. A nostalgia sentida vem daí, dessas memórias de trinta anos ou mais.

 

Nos anos oitenta parecia que tudo era novo e parecia que podíamos imaginar o futuro como quiséssemos. Parecia que, independentemente da loucura dos nossos sonhos, tudo seria concretizável no futuro.

 

Hoje, quinze anos volvidos no novo milénio, o sentimento dominante é precisamente inverso ao dos anos oitenta. Hoje o tempo é de resignação. Resignação é a palavra de ordem. Resignação é o lema. A vida é como é, nunca foi melhor e nunca poderá ser melhor. Esta é a verdadeira justificação das nossas escolhas políticas. Esta é a razão de ser de tudo e do mundo que se apresenta hoje aos nossos olhos.

 

Nada faria prever que após um século XX de tantas transformações, de tanto sonho e utopia, de tanta emancipação de povos, de homens e de mulheres, que o século XXI fosse o ano da domesticação dos povos. O futuro é hoje. O futuro é resignação. A nostalgia nasce daqui.

publicado às 10:49

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