Televisão pública
A televisão pública é um daqueles temas em que se torna fundamental a separação entre “o que deve ser” e “o que é”, entre a teoria e a aplicação, entre o potencial e o mecânico, entre o virtual e o real.
A televisão pública tem a potencialidade de constituir um veículo de transmissão de informação, de cultura e de entretenimento para todos, tem a possibilidade de ser uma referência de qualidade de conteúdos. Não quer dizer que haja uma obrigatoriedade de ser a melhor, mas podia constituir-se como o referencial segundo o qual essa qualidade fosse medida.
A prática, contudo, é outra. A televisão pública é um disparate de uma ponta à outra.
Em termos de informação o que nos oferece é parcial e opinativo estando repleta de profissionais que tão pouco se dão ao trabalho de esconder a sua parcialidade e posicionamento. Os debates promovidos refletem essa falta de pluralidade envolvendo em redor da mesma mesa indivíduos que fazem a apologia do pensamento dominante, frequentemente vindos dos mesmos partidos políticos.
Em termos culturais a televisão pública é um zero. Findo o “Acontece” que poucos já se recordarão não existe um programa cultural nem decente nem indecente. Não existe nenhum! Mas também não existem programas musicais, entrevistas, programas sobre ciência, não existe nada. Existem arraiais ordinários, programas brejeiros e concursos completamente desinteressantes cujo único interesse é saber quem leva o dinheiro. É este tipo de escória que a televisão pública serve a pás cheias ao povo. É isto mais futebol de manhã à noite.
Todavia, como disse no início, há que distinguir a teoria da prática. Por esta prática a televisão pública deveria acabar já hoje: nada do que nos oferece é importante e tudo o que nos oferece é-nos já oferecido pelos canais privados, especialistas no pensamento único parcial, no culturalmente menor e no brejeiro. Pela teoria, contudo, por aquilo que a televisão pública poderia ser... vale a pena aguentar com este literal peso sobre as nossas costas na esperança de que um dia quem de direito que nos governa faça da televisão pública aquilo que a televisão pública deveria de ser.