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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Por lá e por cá

Acho incrível como é que subsiste tanta gente que, depois de décadas de intervenções vergonhosas, indecentes e oportunistas no Médio Oriente, ainda atribui algum crédito aos Estados Unidos da América e aos seus lacaios patéticos, Reino Unido e França. É coisa que, sinceramente, nunca hei de entender!

 

Portugal assumir-se como um país sem espinha dorsal, isso já é fácil de entender. Sempre assim foi. O contrário constituiria novidade. E António Guterres, enquanto presidente das Nações Unidas, comportar-se como um verme vulgar com voz de sacristão que rouba o cesto das esmolas? Isso também é fácil de aceitar. É a natureza de cada um.

 

Agora, todavia, as coisas estão um pouco diferentes. Há um certo respeito que será receio, talvez, que se sente no ar. Um respeito por uma Rússia que se reergueu sem se dar por ela e que faz questão de não participar na fantochada diplomática do costume. Desengane-se quem procura adivinhar uma terceira guerra mundial: estes bombardeamentos são mero fogo de artifício para o mundo ver e, ainda assim, com aviso prévio aos russos porque isto do respeitinho... é coisa que é muito bonita.

 

Por cá, assistimos ao princípio do fim do mito a que se convencionou chamar de “geringonça”. Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português fazem-me lembrar, com efeito, aquelas esposas continuamente traídas e mal tratadas num mau casamento que se mantêm na relação por amor aos filhos — os trabalhadores e o povo, no léxico comunista. Agora, parece que o marido, o PS, prepara-se para trocar em definitivo as esposas pela amante de sempre, a direita, corporizada no PSD. Esta história do “ir mais além que as metas europeias do défice” não tem nada de novo. O que aconteceu repetidamente no passado com as cativações é de idêntica natureza. A diferença é que, agora, o PSD apresenta-se solícito para tudo aprovar em matéria de política interna, sobretudo porque esta assim vai de encontro harmonioso aos interesses da burguesia que PS e PSD tão bem representam.

 

O PS conseguiu — facto assinalável —, ao longo de todo este mandato, fazer uso de BE e de PCP a seu bel prazer até ao preciso momento em que os seus pobres parceiros se esgotaram em préstimo e serventia. Um acordo mínimo foi suficiente para agarrar BE e PCP a uma prossecução de uma governação formalmente e em toda a linha de direita — contado desta forma, ninguém acredita!

 

É sem qualquer vestígio de satisfação que reconheço que este lamentável desenlace dos acontecimentos foi aqui, neste blog, repetidamente previsto e anunciado. BE e PCP ficam muito mal na fotografia e sofrerão — acredito, esperando estar errado — sérias consequências eleitorais.

 

É, por tudo isto que foi dito, que este apoio de Portugal ao mais recente bombardeamento americano à Síria me causou uma suplementar revolta. É que, e dirigindo-me concretamente ao PCP neste ponto, tendo-se revelado incapaz de forçar as reversões que realmente importavam ao país, como o Código de Trabalho, como a Segurança Social, os direitos, os salários e as reformas, não para alguns mas para todos, tendo sido incapaz de diminuir os impostos sobre quem vive do seu trabalho, tendo, enfim, deixado cair as suas principais bandeiras ideológicas em nome de uma travagem meramente simbólica da direita e da sua austeridade, deixa agora, também, cair a sua bandeira mais identitária que é a sua matriz anti-imperialista.

 

Ano após ano, no comício da Festa do Avante!, o secretário-geral do PCP estende a sua solidariedade aos povos que resistem ao imperialismo e dirige-se, concretamente, aos povos do médio-oriente. Como é que Jerónimo de Sousa conseguirá dizer isso este ano, tendo suportado parlamentarmente um governo que se aliou a uma agressão imperialista? Como? Não será possível. Não será mais possível.

 

É verdade que o PCP distanciou-se do governo e criticou-o por esta posição, mas caramba! Exigia-se mais! Estaremos a brincar às coligações? Ou para o PCP isto do imperialismo é conversa fiada que serve apenas para encher discursos e entreter as massas?

 

Não! Isto é muito sério. E, se o PCP fosse fiel à sua própria história e ideário, António Costa, depois da sua miserável intervenção de quinta-feira, caía durante esta mesma semana do seu pedestal de poder a menos que se retratasse e retirasse o nome do país desta abjeta lama onde o mergulhou.

 

O PCP, todavia, parece permanecer fiel a este medíocre papel de esposa desonrada de que falava acima. Queixa-se do governo que tem apoiado. Queixa-se num contínuo pranto. Mas não faz nada. Não faz nada.

 

Não faz nada.

 

Liga para o apoio à vítima, PCP. Liga. O número é o 116 006. Liga: é grátis. Pode ser que te ajudem.

publicado às 22:55

Consistência dos conceitos III

A característica mais singular, mais inusitada, deste capitalismo forçado nas gentes por esta propaganda constantemente disseminada pelos media é a constante mutação dos conceitos que ele próprio cria. A sociedade que julga o regime cubano de não democrático por não seguir os cânones das democracias representativas ocidentais, é a mesma sociedade que acusa o governo venezuelano, possivelmente o governo mais vezes democraticamente eleito em toda a América latina, de ser uma ditadura. De modo análogo, na Venezuela e na Síria chamam de manifestantes ou lutadores pela liberdade ao que chamam de terroristas em qualquer outro lugar do mundo.

 

O capitalismo é, por isto mesmo, o regime moralmente mais abjeto de que há memória na história da humanidade. A sua bússola moral é o lucro, canibal, autofágico, passando por cima de tudo e de todos. O seu lema é Os fins justificam os meios. A sua vocação é a guerra e a destruição.

 

http://www.emlii.com/images/article/2014/07/53bd296532021.jpeg

 

publicado às 23:35

Notas sobre os últimos desenvolvimentos na Síria

A comunicação social continua na sua demanda de fabricação de factos sobre a guerra na Síria. Não interessa que já se tenha descoberto dezenas de fotografias manipuladas no Photoshop, normalmente de meninos em estado de choque com a guerra. Não, não interessa. Há sempre um facto novo a imputar sempre ao mesmo lado, ao lado que convém denegrir, que é o lado do governo Sírio.

 

Desta feita, foi o suposto ataque com armas químicas. De imediato, o rumor foi suportado por uma enxurrada de fotografias e de relatos totalmente parciais e sem qualquer tipo de fiabilidade ou credibilidade. Novamente, se isso não interessou no passado, também não interessa agora que não haja qualquer tipo de credibilidade. As pessoas acreditam-se e pronto.

 

Desta vez, o facto criado foi suficiente para o governo americano ordenar um ataque sobre uma base aérea da Síria onde supostamente terá sido ordenado o suposto ataque químico. Parece mais uma daquelas histórias idiotas dos mesmos que nos trouxeram o famoso arsenal de armas de destruição maciça do Iraque? É verdade, parece mesmo. Falo em governo americano porque só um analfabeto poderá dizer que isto saiu da cabecinha pensadora de Trump. A própria Killary Clinton já veio a público dizer que este ataque só peca por tardio. Quem pensa que com Clinton seria diferente devia dedicar-se a outra coisa qualquer, como trabalhos manuais, e estar calado. O governo americano tem vida própria e move-se independentemente do débil mental que ocupa a Casa Branca e a questão Síria nada tem a ver com direitos humanos ou com outras razões igualmente inocentes. A questão Síria é uma questão económica estratégica. É uma questão política. É uma questão de defender os interesses da burguesia americana e o seu domínio sobre os recursos na região.

 

Este ataque americano, todavia, poderá originar repercussões muito graves para o governo dos Estados Unidos. Descontando a Austrália e o Reino Unido — e Israel, eventualmente —, ou seja, dos apêndices imbecis da América, o mundo em geral está a ver com muito maus olhos esta intervenção. É que é mais do que uma evidente agressão a um país soberano, de governo democraticamente eleito — sublinhe-se, porque nunca é demais sublinhar —, que está a lutar praticamente sozinho contra um grupo de radicais islâmicos que aterroriza o mundo. É também uma certa transformação da correlação de poderes no mundo. Rússia e China, juntos, poderão fazer os Estados Unidos começar a pagar pelos crimes que têm vindo a cometer mundo fora. Os Estados Unidos criaram e armaram Bin Laden e a sua Al-qaeda. Agora fizeram o mesmo com o Estado Islâmico. Não é de estranhar que, ao mesmo tempo, no preciso momento em que a América lançava os cinquenta e nove mísseis sobre a base aérea Síria, o Estado Islâmico lançava um ataque sobre posições do exército sírio na estrada Homs-Palmira. O Estado Islâmico é uma criação dos Estados Unidos e cumprem por ora um papel bem definido naquela zona.

 

Por cá, também não faltam os idiotas úteis do costume, sempre céleres na sua apologia ao politicamente correto, a tomar posição sobre o que lhes é soprado precisamente pelos órgãos de comunicação social fieis ao regime americano. Neste particular, ouvia esta tarde o Bruno Nogueira, um comediante que gosta de tomar posição sempre que diz umas piadas, a dizer uns disparates disfarçados de insultos sobre o Assad a quem atribuía a culpa definitiva sobre os supostos ataques químicos, dos quais, evidentemente, não tem qualquer dúvida sobre a sua ocorrência ou responsabilidade. Este é precisamente o tipo de idiota útil ao sistema capitalista. Fala sem saber, acredita-se em informação enviesada, e emite opinião rápida, sensacionalista, baseada em falsas evidências e numa estrutura de princípios tão pueril quão manipulável. O problema é que este tipo de idiota útil tem a capacidade de formar uma grande falange de pessoas distraídas que se ficam pela espuma do sensacionalismo mediático e se escudam nos seus altos conceitos ocidentalizados de direitos humanos, democracia e liberdade. Não têm contexto, nem cultura, nem história. Opinam sem sabedoria. Não têm paciência para mais. Só querem é jogos de computador, séries e filmes, sexo e sentimentalismo barato, tudo o que seja gratificação instantânea. Mas são muito boa gente, lá isso são.

http://images.huffingtonpost.com/2016-05-14-1463254278-5592062-spiritualpollutiontv.gif

O partido desta boa gente, lamento dizê-lo, é o Bloco de Esquerda, sempre tão rápido a votar ao lado da direita votos de condenação e outros que tais sobre os supostos ataques químicos do governo Sírio e legitimando os bombardeamentos americanos sobre a Síria. Em termos de política internacional, o Bloco de Esquerda é de uma ignorância que não cessa nunca de me espantar. Quando penso que já estou a contar com tudo o que de lá possa vir, lá aparece algo de novo. É assustador, deveras, se pensarmos que tanto do que é política e estratégia nacional deve ser entendido como parte de um processo global, que nos devemos saber posicionar internacionalmente e que, para o fazermos com inteligência, temos que saber interpretar com sabedoria os caminhos da história política do planeta. O Bloco de Esquerda assume um discurso que é muitas vezes de rutura com o sistema mas, ao mesmo tempo, aceita cegamente tudo o que é dito nos livros de história desse mesmo sistema. De duas uma: ou é um partido de imbecis do ponto de vista intelectual, ou as suas verdadeiras intenções não coincidem com aquilo ao que realmente vêm.

publicado às 22:48

Palmyra libertada pelos compositores russos

Depois de auxiliar o exército sírio a libertar a milenar e belíssima cidade síria de Palmyra das mãos do Estado Islâmico, a Rússia levou um dos seus maiores maestros Valery Gergiev e a sua afamada orquestra Mariinsky Theatre Orchestra, de São Petersburgo, para realizar o concerto “Pray for Palmyra. Music Revives Ancient Ruins”, que teve lugar naquelas ruínas do anfiteatro romano de Palmyra no dia de ontem. No concerto foram interpretadas obras de vários compositores russos.

 

Porque tão relevante acontecimento, pela sua simbologia e pela sua beleza, foi mais ou menos ignorado pela comunicação social, fica aqui o registo.

 

 

publicado às 12:19

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