A máquina retrógrada
O processo de metamorfose que conduziu a primordial RTP N, “N” de notícias, à atual RTP 3, passando também pela RTP Informação, uma espécie de estádio de girino, antecâmara para a sua forma final, não consistiu numa mera operação de cosmética no visual do meio de comunicação em causa. Foi mais do que isso: foi uma transformação de conteúdo.
Com efeito, para a composição dos quadros de “jornalistas” e “editores”, assim como para os painéis de “comentadores”, foi elaborada uma rigorosa e criteriosa escolha de personalidades. Repare-se quão ténue é hoje a diferença entre as designações jornalista, editor e comentador. A nomenclatura é usada aqui, portanto, com função de mera decoração linguística. A escolha, dizia eu, por obedecer a tão rigorosos critérios, resultou num grupo de personalidades que constitui hoje, atrevo-me a escrever, possivelmente não o mais reacionário canal de informação televisiva, mas seguramente o mais descarado, o mais desbocado e o mais petulante. Isto mesmo havia sublinhado neste blog, em jeito de nota de rodapé, aquando do início da carburação da dita máquina retrógrada.
Mas como qualquer “equipa vencedora”, o “plantel” da RTP 3 não é apenas constituído por caras novas e contratações sonantes, leia-se gente a quem o Capital decidiu premiar e estender a sua caridosa mão por tão devotamente saberem defendê-lo. Alguns dos que compõem a espinha dorsal do “onze titular” da estação já pontificavam naquela casa e, como toda a gente sabe, são sempre os “homens da casa” os que controlam o “balneário” e sabem unir a equipa.
É o caso de José Rodrigues dos Santos ao qual foi dada renovada liberdade no seio desta nova equipa para poder explanar o seu jogo a seu bel-prazer. Muitas pessoas têm ficado escandalizadas com o inexato gráfico que o senhor “jornalista” apresentou para explicar a evolução da dívida portuguesa e essa mesma revolta têm exprimido nas redes sociais.
Este é simplesmente o episódio último da máquina retrógrada que é a RTP 3 ou, digamos, a por ora última jogada ou última finta, do “jornalista” em causa, e é verdade: o gráfico constitui efetivamente uma grosseira manipulação matemática na apresentação dos dados que supostamente o sustentam através de um processo de adulteração das escalas de ambos os eixos do gráfico. Este facto, facilmente comprovável, teve como objetivo hiperbolizar as conclusões que se pretendiam retirar e passar aos espectadores. Por outras palavras: o objetivo era condicionar e enganar o público.
Houvesse lei e justiça e este “jornalista” responderia e pagaria pelo que fez. Houvesse decência e ética profissional e o mesmo estaria já demitido das suas funções. Mas tudo isto é efetivamente natural, nem tão pouco o “jornalista” faria o que fez sem ter, nas suas costas, um “treinador” que dá a tática e o suporta.