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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

A sociedade do duplo critério

Num ápice o foco mediático deslocou-se por inteiro do conflito Rússia-Ucrânia, para o conflito Israel-Palestina. Creio que, a ocidente, terá sido muito oportuna esta sucessão dos eventos: foi o pé de que precisavam para abandonar de vez (?) as ambições de guerra do insensato ucraniano. Nunca deixará de me surpreender, todavia, é a mudança de critério que acompanhou a mudança do foco:  o que se dizia a propósito do primeiro conflito, não se diz a propósito do segundo conflito ou, pior, diz-se exatamente ao contrário. Arrepia-me viver numa sociedade de dois pesos e de duas medidas. Arrepia-me que umas vidas sejam mais importantes que outras. A este respeito, também o tratamento mediático é o oposto, a imagética, o argumentário aplicado inverteu-se, a conceptologia substituiu-se, já não há invasores nem invadidos, já não há agressores nem agredidos, os terroristas são os outros, são sempre os outros. Terrorista é aquele conceito que se aplica a quem convém e que se subleva a qualquer critério. É como o bárbaro na boca dos romanos. É o inimigo. Elogie-se ainda o discurso de António Guterres por se limitar a dizer o óbvio e deixar, por breves momentos, de ser o serventuário do tio Sam. E veja-se como, para Israel, quem ousa criticá-la é imediatamente enxovalhado de antissemita para baixo. É um tipo de atitude que corta pela raiz qualquer tipo de diplomacia, de diálogo ou de entendimento. Não será por acaso que o problema do médio-oriente não se resolve. Nada se pode resolver na sociedade do duplo critério.

publicado às 17:54

A guerra e a greve

Não escrevi praticamente nada sobre a guerra na Ucrânia desde o início do conflito. O tema é complexo, estupidamente bipolarizado e, para mim, comum mortal, sinto que, desde o princípio, me faltavam bases sólidas para poder opinar. Entre um ocidente que chama a Rússia de comunista e uma Rússia capitalista com outros interesses para além da sua segurança, desde cedo me pareceu avisado simplesmente abster-me e não participar na insanidade.

Vou registar apenas aqui um momento que se deu esta semana e começa a anunciar uma viragem interpretativa e uma adaptação conveniente das narrativas a ocidente, no que ao conflito diz respeito. Quando este conflito acabar, ainda vamos ver, quer-me parecer, muitos comentadores e fazedores de opinião a dar o dito pelo não dito e a fazer piruetas de assinalável dificuldade técnica. Lembrem-se que, para muitos, anti-comunistas, a China já não é comunista e só lhes falta entoar o hino.

Um outro assunto em nada relacionado com este — ou talvez não seja bem assim?! — é a inusitada greve dos jornalistas da TSF e a incrível falta de cobertura da imprensa a respeito. É mesmo assim que se vê a hipocrisia do jornalismo que anda sempre a apregoar-se como defensor da liberdade e suprime, assim, a informação de modo totalmente descarado.

publicado às 16:50

É hora de começar a rezar

Realmente... a Finlândia e a Suécia agora querem aderir à NATO... acho muito bem... e todos nós, como povo, e o nosso adorado presidente, o que nunca se nega a uma selfie, também... todos achamos muito bem...

A Rússia bem pode ter começado esta guerra, mas o ocidente anda empenhado em dar-lhe razão e está a fazer de tudo para que ela, a guerra, não termine. E, pior, muito pior, para que a guerra evolua para o estádio seguinte...

Para quem crê, é hora de começar a rezar... para que os poderes supremos possam pôr algum senso na demência que vai por aqui em baixo. Isto não vai acabar bem.

publicado às 14:23

Costa a fazer currículo

Ai o Costa vai a Kiev assinar um protocolo qualquer não sei das quantas? Ai é? Faz muito bem, sim senhor. Tem que continuar a preparar a sua vidinha futura, fazer currículo para se poder candidatar a algum cargo importante nesta união europeia decadente, ainda antes do seu mandato de primeiro-ministro acabar. Preocupação com o nosso povo, zero. O que nos vale é não contarmos para nenhuma espécie de campeonato na geopolítica internacional.

É o que nos vale. Ainda assim, devíamos ter mais cuidado. Mandamos muitas bocas, mas não somos exatamente como o papagaio... não temos asas! É sempre engraçado armarmo-nos em valentes às custas dos outros. Costa manda bocas e o povo é que vai pagar por isso. Já estamos a pagar por isso. E a fatura tem tendência a aumentar.

Uma ideia, assim, de repente: e promover a paz? E opôr-se ao alimentar belicista deste conflito?

publicado às 10:55

O "ditador" e o "democrata"

O “ditador” recebe o secretário-geral das Nações Unidas com a porta aberta, em direto e ao vivo para todos os que querem ouvir, com tradução simultânea. O “democrata” recebe o secretário-geral das Nações Unidas à porta fechada, os jornalistas obrigados a entregar os seus telemóveis, com direito a três perguntas e declarações efetuadas em diferido, não vá alguma coisa escapar-se do plano previamente delineado. O que o “ditador” diz é “retórica”, concluem os jornais. O que o “democrata” diz são verdades evidentes, como é óbvio.

No ocidente da democracia, que não está formalmente em guerra com a Rússia, são censurados todos os canais de informação que não alinhem com a narrativa ocidental. Redes sociais, YouTube, Google, ninguém falta à chamada. De que têm tanto medo? Orquestras deixam de tocar os eternos concertos de Tchaikovsky, universidades censuram as obras imortais de Dostoievski. Putin é o mal encarnado, Zelenskyy um herói, um anjo. Tudo o que a Rússia faz é errado. A moralidade está do lado de cá, o lado certo, claro. A pluralidade nas democracia ocidentais é algo que não devemos deixar de sublinhar.

Já não temos memória das guerras iniciadas pelo Tio Sam. Todas foram plenamente justificadas, mesmo que com pretextos como armas de destruição maciça ou genocídios imaginários. Em nenhuma houve vítimas, nem mulheres, nem crianças, nem grávidas. Em nenhuma houve rockets, armas de urânio empobrecido ou armas químicas ou nucleares. Também não houve Nações Unidas, nem secretário-geral, para reunir com os presidentes ocidentais de então. Temos, por isso, todas as razões, e mais alguma, para confiarmos cegamente na narrativa que, por ora, nos apresentam. Claro que sim. Estejam, porém, atentos: é que a narrativa pode mudar a qualquer instante.

Faço votos para que a guerra acabe depressa, mas tenho um profundo desprezo por este mundo de dois pesos e duas medidas, este rebanho de conceitos frágeis, de pensamento único, de cata-ventos morais dirigidos pelo seu interesse e egoísmo, marionetas nas mãos de poderes superiores. Um mundo onde os seres pensantes são espécie cada vez mais rara, mais pobre, mais rouca.

publicado às 21:46

We will always have Kosovo?

Ai, que pena é já não nos lembrarmos do Kosovo... de como foi dada a independência em 2008 a essa pequena região sérvia sem nenhuma justificação que não fosse a de haver uma grande população de origem albanesa, de como o “direito internacional” de nada valeu então e dos bombardeamentos da NATO que destruíram gratuitamente boa parte da belíssima Belgrado...

Que pena a nossa falta de memória! É que daria tanto jeito para vermos a situação da Ucrânia de um outro modo!

Já não peço conhecimentos em história e geografia europeias: peço, simplesmente, memória! E não tão longínqua assim... Não peço para relembrar a crise dos misseis de Cuba e do estado de loucura que provocou na América dos anos 60. Claro, isso foi nos anos 60, quase ninguém era nascido nessa altura... Hoje é lícito os americanos colocarem misseis em tudo o que é país fronteiriço da Rússia. É muito diferente, claro.

É que tudo o que os americanos não gostam que lhes façam a eles, fazem aos outros e tudo aquilo que os americanos fazem aos outros não admitem que os outros façam. Complicado? Não, é muito simples. Com a atenuante de que o que está em causa, como sempre esteve, é a segurança da população russa naqueles territórios ucranianos a qual, desde o golpe de estado de 2014 que instaurou um regime com “simpatias” neo-nazis naquele país, tem estado seriamente comprometida.

Mas todos nós convivemos bem com um regime que “adora” suásticas, militarizar as populações e submetê-las segundo a regra da violência de milícias armadas. Claro que convivemos bem: a Europa patrocinou esse golpe de estado na Ucrânia, como poderia ser de outro modo? Se não aceitamos o direito que a Rússia tem em zelar pelos seus legítimos interesses, aceitemos, pelo menos, o direito que a Rússia tem em proteger os seus cidadãos. É só isso. O resto é propaganda descarada de uma grande potência que já só o é para as televisões e para os jornais amestrados (neste particular, note-se a grande adição que foi a CNN Portugal ao panorama de papagaios do imperialismo que já tínhamos aqui no bairro). Aos Estados Unidos da América, de facto, já não lhes resta mais do que isto: propaganda. Daí toda esta histeria dos capangas da NATO: como não podem fazer nada, berram e chamam nomes, como as crianças no recreio da escola.

publicado às 11:16

Uma vez mais, a Alemanha

Nos últimos anos têm-se vindo a multiplicar os protestos populares na Roménia, sobretudo nas suas cidades mais cosmopolitas com expoente máximo na capital Bucareste. A razão de ser de tais manifestações é uma corrupção governamental crescente tão vergonhosa, que o primeiro-ministro local chegou ao descaramento de influenciar o processo legislativo para evitar ser preso ou julgado pelos seus crimes de lesa-pátria. O povo saiu à rua em força, gritou com toda a força que guardava nos pulmões, mas à parte da Roménia, ninguém aqui, na Europa civilizada, ouviu o que quer que fosse, escassas notícias foram impressas sobre o assunto, nenhum comentário foi emitido no noticiário sobre a situação, nenhum vestígio de indignação. Absolutamente nada.

 

Um pouco mais a norte, no enfiamento do mesmo meridiano, a pouco mais de quinhentos quilómetros, a Bielorrússia tem vindo a ser tema de conversa desses mesmos jornais e noticiários de televisão. Aparentemente, as eleições locais geraram suspeita. Aparentemente, tem havido manifestações diárias de dezenas, não, centenas!, não, milhares!, não, dezenas de milhares!, não não, centenas de milhares! — assim é que é! —, reprimidas pelo estado. Há opositores políticos encarcerados e outros no exílio. Há isso e há muito mais. O pacote que os media nos oferecem nestes contextos é já bem conhecido e aplica-se de modo notável neste caso particular. A Bielorrússia, provavelmente o país mais ordenado e organizado da Europa, com uma taxa de crime praticamente nula, está convertida no inferno na Terra, pelo menos, a confiar no que nos dizem os nossos canais informativos.

 

O meu problema não é eu ter um certo afeto pela Bielorrússia e não ter assim tanta afinidade pela Roménia. Afinidades, como os amores, não se discutem, nem se escolhem. Ademais, não ponho as mãos no fogo pela liderança atual da Bielorrússia, nem tomo esse país como um modelo a seguir. Mas isso também não é para aqui chamado, não será assim? Se calhar o nosso problema é precisamente este: permitimos sermos guiados pela emoção em vez da razão e essa será a chave para quem nos governa conseguir perpetuar os seus poderes, manipulando-nos constantemente e, assim, sobrevivendo a cada eleição e a cada escândalo.

 

O meu problema é a diferença de critério, são os dois pesos e as duas medidas, porque não é só a Ucrânia que está entre a Roménia e a Bielorrússia, há algo de mais substantivo que separa estes dois países e que justifica as evidentes diferenças de tratamento aplicadas a um e a outro.

 

Qualquer observador atento da realidade política internacional que não conheça as lengalengas contadas usualmente a propósito da criação das comunidades várias que deram origem à União Europeia, dirá que o objetivo principal desta última terá sido coser na perfeição um manto protetor feito à medida da Alemanha. Com esse manto chamado União Europeia, a Alemanha foi capaz de camuflar os seus interesses expansionistas fazendo uma espécie de reset àquilo que foi a memória coletiva mundial pós duas guerras mundiais. Tudo na União Europeia, as suas regras, as suas políticas produtivas comuns, as suas distribuições de renda, a moeda única, a admissão de novos membros, etc, tudo foi feito na justa medida dos melhores interesses germânicos. Até mesmo em termos de política externa, a Alemanha encontrou um intermediário ideal que, falando em nome do grupo, defende, de facto, os seus interesses.

 

A diferença é esta. A Roménia já se libertou da influência russa desde o início dos anos noventa e, com isso, entregou, paulatinamente, todos os seus recursos naturais, todo o seu património empresarial nas capazes mãos alemãs. A Roménia está, portanto, do lado certo. Já a Bielorrússia é talvez o derradeiro aliado europeu da Rússia e mantém em seu poder a exploração dos seus recursos e a organização do seu país. A Bielorrússia está, como é evidente, do lado errado da História. Daí, as gritantes diferenças de tratamento.

 

A Roménia não é, bem entendido, o único exemplo que podemos fornecer. Aliás, o retrato traçado sobre a Roménia poderia ser reproduzido com muitas semelhanças relativamente a muitos outros países vizinhos. Desde o final da guerra fria, cada país do leste europeu que descobriu e se converteu às maravilhas do capitalismo do ocidente foi um país que engrossou o protetorado alemão. E sentem-se bem desse modo. Não se importam de já não terem fábricas suas, nem companhias aéreas, nem matérias primas. Adoram imaginar-se alemães. A Alemanha está efetivamente a conseguir pela via económica o que nunca conseguiu pela via militar.

 

Nos últimos dias, tivemos conhecimento do envenenamento de mais um opositor de Putin, desta feita em solo germânico. Pela forma como a notícia nos é apresentada, não restam quaisquer dúvidas para ninguém de que a Rússia será a culpada. Se assim é, será possível reconhecer também a total incompetência dos russos nestes envenenamentos que nunca cumprem plenamente os seus intentos, deixando sempre as vítimas vivas e um rasto de provas irrefutáveis. É estranho. E neste mar de estranhezas sucessivas, alimentadas ora por americanos, ora por britânicos, ora por franceses, ora por alemães, prosseguem estes últimos um rumo fixo e determinado de dominação ideológica e económica do leste europeu.

publicado às 18:01

Dia da vitória

imagem: telegraph.co.uk

imagem: telegraph.co.uk

 

No dia 2 de maio de 1945, após uma longa e heroica contraofensiva, o exército vermelho tomou a capital da Alemanha nazi e hasteou a sua bandeira vermelha do alto do palácio do Reichstag, o parlamento alemão. A Alemanha estava rendida e a total capitulação do nazismo e o fim da guerra estavam iminentes.

 

Uma rendição incondicional viria a ser assinada pelo marechal Keitel entre os dias 8 e 9 de maio. Adolf Hitler já se havia suicidado, encontrado morto com um tiro na cabeça a 30 de abril, aquando do avanço imparável das tropas soviéticas, dois dias depois de Benito Mussulini, o fiel aliado fascista italiano, ter sido executado pelas forças da resistência italiana.

 

O dia de 9 de maio é, pois, celebrado numa parte do mundo como o Dia da Vitória sobre o nazi-fascismo. Na Rússia, por exemplo, de longe o país que mais sofreu com a segunda grande guerra às mãos do nazi-fascismo, hoje é feriado nacional.

 

É importante, todavia, sublinharmos que nem todo o mundo celebra este dia e, por ventura, a sua maior parte não o celebrará. Portugal, por exemplo, não o celebra e duvido que algum meio de comunicação faça menção à data.

 

A reboque das narrativas históricas vindas do ocidente, aflitas por justificar os comportamentos inconsistentes, criminosos e genocidas dos seus estados ao longo da segunda grande guerra, também Portugal prefere deixar a data cair no esquecimento. De que outro modo seria possível, afinal, explicar os bombardeamentos atómicos genocidas sobre Hiroshima e Nagasaki a 6 e 9 de agosto de 1945 ou, até, aquela operação militar desnecessária e sem sentido, que resultou num massacre de soldados aliados, que ficou conhecida como o Desembarque na Normandia ou Dia D a 6 de junho de 1944? Fica difícil.

 

Mas não o fazer, implicaria conceder à Rússia, então União Soviética, um papel determinante no desfecho da guerra que entra em contradição com toda a propaganda produzida no final do século passado. Importa camuflar a realidade. Importa esconder a admiração que os líderes ocidentais sempre nutriram pela Alemanha de Hitler; importa abafar os aplausos e o apoio concedido ao terceiro reich quando este chegava às portas das principais cidades russas; importa esconder o facto de que a União Soviética lutou sozinha contra a Alemanha nazi durante a maior parte da guerra sem ninguém que lhe valesse; que o seu povo foi mártir e que, sozinho, derrotou heroicamente esse inimigo da humanidade que hoje, e apenas hoje, é reconhecido como tal.

 

Sigamos atentamente os próximos passos da reescrita da História. Hoje, diga-se o que se disser, assinala-se o Dia da Vitória!

publicado às 11:43

Por lá e por cá

Acho incrível como é que subsiste tanta gente que, depois de décadas de intervenções vergonhosas, indecentes e oportunistas no Médio Oriente, ainda atribui algum crédito aos Estados Unidos da América e aos seus lacaios patéticos, Reino Unido e França. É coisa que, sinceramente, nunca hei de entender!

 

Portugal assumir-se como um país sem espinha dorsal, isso já é fácil de entender. Sempre assim foi. O contrário constituiria novidade. E António Guterres, enquanto presidente das Nações Unidas, comportar-se como um verme vulgar com voz de sacristão que rouba o cesto das esmolas? Isso também é fácil de aceitar. É a natureza de cada um.

 

Agora, todavia, as coisas estão um pouco diferentes. Há um certo respeito que será receio, talvez, que se sente no ar. Um respeito por uma Rússia que se reergueu sem se dar por ela e que faz questão de não participar na fantochada diplomática do costume. Desengane-se quem procura adivinhar uma terceira guerra mundial: estes bombardeamentos são mero fogo de artifício para o mundo ver e, ainda assim, com aviso prévio aos russos porque isto do respeitinho... é coisa que é muito bonita.

 

Por cá, assistimos ao princípio do fim do mito a que se convencionou chamar de “geringonça”. Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português fazem-me lembrar, com efeito, aquelas esposas continuamente traídas e mal tratadas num mau casamento que se mantêm na relação por amor aos filhos — os trabalhadores e o povo, no léxico comunista. Agora, parece que o marido, o PS, prepara-se para trocar em definitivo as esposas pela amante de sempre, a direita, corporizada no PSD. Esta história do “ir mais além que as metas europeias do défice” não tem nada de novo. O que aconteceu repetidamente no passado com as cativações é de idêntica natureza. A diferença é que, agora, o PSD apresenta-se solícito para tudo aprovar em matéria de política interna, sobretudo porque esta assim vai de encontro harmonioso aos interesses da burguesia que PS e PSD tão bem representam.

 

O PS conseguiu — facto assinalável —, ao longo de todo este mandato, fazer uso de BE e de PCP a seu bel prazer até ao preciso momento em que os seus pobres parceiros se esgotaram em préstimo e serventia. Um acordo mínimo foi suficiente para agarrar BE e PCP a uma prossecução de uma governação formalmente e em toda a linha de direita — contado desta forma, ninguém acredita!

 

É sem qualquer vestígio de satisfação que reconheço que este lamentável desenlace dos acontecimentos foi aqui, neste blog, repetidamente previsto e anunciado. BE e PCP ficam muito mal na fotografia e sofrerão — acredito, esperando estar errado — sérias consequências eleitorais.

 

É, por tudo isto que foi dito, que este apoio de Portugal ao mais recente bombardeamento americano à Síria me causou uma suplementar revolta. É que, e dirigindo-me concretamente ao PCP neste ponto, tendo-se revelado incapaz de forçar as reversões que realmente importavam ao país, como o Código de Trabalho, como a Segurança Social, os direitos, os salários e as reformas, não para alguns mas para todos, tendo sido incapaz de diminuir os impostos sobre quem vive do seu trabalho, tendo, enfim, deixado cair as suas principais bandeiras ideológicas em nome de uma travagem meramente simbólica da direita e da sua austeridade, deixa agora, também, cair a sua bandeira mais identitária que é a sua matriz anti-imperialista.

 

Ano após ano, no comício da Festa do Avante!, o secretário-geral do PCP estende a sua solidariedade aos povos que resistem ao imperialismo e dirige-se, concretamente, aos povos do médio-oriente. Como é que Jerónimo de Sousa conseguirá dizer isso este ano, tendo suportado parlamentarmente um governo que se aliou a uma agressão imperialista? Como? Não será possível. Não será mais possível.

 

É verdade que o PCP distanciou-se do governo e criticou-o por esta posição, mas caramba! Exigia-se mais! Estaremos a brincar às coligações? Ou para o PCP isto do imperialismo é conversa fiada que serve apenas para encher discursos e entreter as massas?

 

Não! Isto é muito sério. E, se o PCP fosse fiel à sua própria história e ideário, António Costa, depois da sua miserável intervenção de quinta-feira, caía durante esta mesma semana do seu pedestal de poder a menos que se retratasse e retirasse o nome do país desta abjeta lama onde o mergulhou.

 

O PCP, todavia, parece permanecer fiel a este medíocre papel de esposa desonrada de que falava acima. Queixa-se do governo que tem apoiado. Queixa-se num contínuo pranto. Mas não faz nada. Não faz nada.

 

Não faz nada.

 

Liga para o apoio à vítima, PCP. Liga. O número é o 116 006. Liga: é grátis. Pode ser que te ajudem.

publicado às 22:55

A inenarrável questão russa

Por que razão é que o presidente russo havia de ordenar o homicídio de um duplo espião libertado por si próprio há sete anos e há sete anos a viver em solo britânico?

 

Será que subsistia algum segredo russo que, ao longo destes sete anos, este espião ainda não havia revelado aos serviços secretos britânicos?

 

E por que razão é que a Rússia havia de escolher como método um gás tóxico perigosíssimo — a mais pequena quantidade é capaz de exterminar vilas inteiras — para assassinar um só indivíduo e que podia ser associado a si própria?

 

Não me sabem dizer? Não interessa, pois não?

 

A questão é tão inenarrável, de tão absurda que é, que nem vale a pena prosseguir.

 

As sociedades estão convertidas nisto, nesta massa de distraídos e de alheados que comem tudo o que lhes é dado, por mais absurdo que seja. Somos uma massa, no fundo, de vulgares preconceituosos e ignorantes. Que assim seja: os russos é que são maus, são um perigo para a paz mundial! Os ocidentais são uns santos que nos protegem! Carreguem, jornais “de referência”. Carreguem, televisões e rádios. Carreguem, opinion makers! Lavagem cerebral da melhor!

publicado às 11:18

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