A primeira vez que ouvi o nome de Mário Vargas Llosa foi a propósito da atribuição do prémio Nobel da literatura a este escritor. O ano de 2010 precipitava-se para o seu términos. Na altura não percebi a razão de ser da atribuição deste prémio. Continuo a não perceber. Talvez um dia, quando a força das circunstâncias assim o exigir, pegarei um livro seu em mãos e, então, serei capaz de ajuizar sobre a justeza de tal atribuição.
A verdade é que o prémio Nobel não significa muito. Sejamos honestos e não dispersemos com a rudeza das palavras escritas: quantos prémios Nobel da literatura ficaram para a história? Quantos? Conseguem nomeá-los? Até vos faço um favor: percorram a lista da wikipedia e digam-me, honestamente, quantos dos laureados consideram que serão imortalizados acima do escorrer das areias do tempo? Admirados? São poucos?
Tal facto apenas vem concorrer para aquilo a que o prémio se tornou ao longo dos anos: um prémio totalmente politizado — no mau sentido —, travestido de qualquer sentido de arte, a leste de qualquer conceito de literatura, com o objetivo único de premiar não o escritor, mas aquilo que o escritor representa, isto é, de usar o escritor como uma bandeira para influenciar politicamente os povos.
Claro que, pelo meio, há Steinbeck, há Neruda, há Saramago, há Russel, Sartre e Shaw e ainda Hemingway e García Márquez e existirão outros, com certeza, mas estes acabam por ser exceções a uma regra vil e pérfida que se vem tornando mais carregada, mais descarada, a cada ano que passa.
Voltando a Llosa, devo confessar que “comecei” mal com o personagem. Ter como ponto alto do seu currículo uma altercação com Gabriel García Márquez, pareceu-me sempre pouco abonatório com respeito à sua pessoa. Dizem que se tratou de uma “questiúncula de saias”. Nunca consegui interiorizar bem a coisa, todavia. Como é que alguém poderia se chatear com um dos mais queridos, com um dos mais admirados, escritores latino-americanos, o mestre criador do realismo mágico que nos presenteou com algumas das mais preciosas obras literárias? Claro que as coisas não são bem assim, claro que o escritor e o homem não se constituem como entidades indissociáveis com propriedades transferíveis.
Hoje percebo melhor a questão. Vargas Llosa poderá ser um excelente escritor, mas é um indivíduo de uma pobreza intelectual assustadora. As recentes declarações sobre o Podemos espanhol e o que realmente pensa sobre o mapa geopolítico na América Latina, na qual se inclui o seu posicionamento sobre as FARC e o processo de paz na Colômbia, são um bom exemplo disso. Qualquer ignorante diria o mesmo. Qualquer ignorante talvez o dissesse melhor, descontados quaisquer assombros de pseudo-intelectualidade.
Na verdade, não sei se terá sido a tal “questiúncula de saias” a responsável pelo afastamento de Márquez e Llosa. Talvez sim. Para mim, contudo, a razão essencial terá sido, antes, o facto de Márquez ter visto a vivas cores a natureza medíocre de Llosa. De todas as atoardas que Llosa lançou nos últimos dias, a que para mim se reveste de maior dramatismo é a seguinte: “As utopias não trazem o paraíso à terra. Criam o inferno.”
Com esta tirada não sobra mais nada para se dizer. Para Llosa, contentem-se com o que temos: não vale a pena ambicionar mais nada. Ficamos por aqui. Para mim, é extraordinariamente triste ouvir tais palavras.
Acima, escrevi que Llosa talvez fosse um excelente escritor. Esqueçam. Quem diz uma coisa destas não pode ser um excelente escritor, tão pouco um razoável escritor. Tão pouco um razoável ser humano. Esqueçam a diferença que existe entre o escritor e o ser humano. Não se aplica. Llosa apenas poderá ser um medíocre, um triste escritor, um triste homem... uma triste figura.