Existe um subconjunto alargado da população que classificaria como intelectualmente subdesenvolvida, isto é, cujos elementos não conseguiram, ao longo do seu desenvolvimento até à idade adulta, se libertar verdadeiramente de uma certa intelectualidade simbólica, mais própria das idades da pré-adolescência. Para um elemento deste subconjunto populacional cada constructo intelectual é associado a um símbolo, que pode ser uma figura modelar, como um familiar ou uma figura pública, uma atriz, um cantor, um futebolista, uma apresentadora, mas também poderá assumir uma figura não humana como um animal real ou mitológico, um desenho, um herói ou uma construção idealista. Estes símbolos servem de referência para as tomadas de posição, para as outras construções intelectuais importantes que o indivíduo necessita adquirir na sua vida corrente e social.
O problema surge quando o ser pensante não se consegue libertar de tais símbolos e se esconde na sua sombra, por ser mais fácil, por ser mais cómodo. Quando ouve algo de novo, rapidamente trata de encaixar nalguma das suas caixas intelectuais e prescinde de ouvir o resto do argumento. Não precisa. Já está empacotado e inserido no seu caixote mental, aquele que apresenta o símbolo apropriado à conversa que se está a ter.
Esta forma de pensar, ou de não pensar, é característica das idades mais jovens onde ainda não ocorreu uma certa consciencialização de si próprio, onde ainda se procuram referências e limites dentro do seu próprio pensar, não para limitar o pensar mas, pelo contrário, para o libertar através de uma solidez a priori a que normalmente chamamos de caráter.
Um bom exemplo desta infantilidade do pensar reside na religião. O crente deposita, muitas vezes, toda o seu entendimento religioso em meia dúzia de símbolos e de historietas, de figuras míticas e de feitos mágicos, não se conseguindo verdadeiramente libertar de tudo isso, porque tudo isso é simbólico, tudo isso é ponto de partida e nada disso deveria ser interpretado literalmente.
A avestruz é um singular animal que, ao contrário do que normalmente se faz constar, reage violentamente à presença humana disparando fortes pontapés, como coices de cavalo. Contudo, os homens que se dedicaram à sua domesticação descobriram um facto curioso: colocando um saco na cabeça de uma avestruz tornam-na no mais dócil animal, tão dócil que, hoje em dia, colocam crianças a andar sobre avestruzes e promovem-nas como se de mansos póneis se tratassem. Isto acontece porque, dentro do saco, não vendo o perigo, não o reconhecem e acalmam-se. O mesmo princípio ocorre quando a avestruz decide enterrar a cabeça na areia.
Por vezes, penso que as pessoas de que falava são como avestruzes. Coloca-se-lhes um saco na cabeça, como um político barbeado, engomado e bem falante, que diga o que pretendem ouvir, e elas acalmam-se. Não conseguem pensar para além disso. Não sentem o perigo. Amansam-se.