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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

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A maior crise de sempre do jornalismo

Abri hoje o Público para dar de caras com um editorial, assinado pelo diretor do jornal, no qual se ensaia um muito pouco convincente contraponto àquela tese que tem vindo a ser veiculada de que o jornalismo viverá atualmente a sua maior crise de sempre. Pode parecer estranho chamar-se de tese a uma afirmação que aparenta não carecer de demonstração, mas mantem-se a terminologia por respeito a uma abordagem minimamente científica.

 

Se o jornalismo vive ou não a sua maior crise de sempre, não é realmente muito relevante. O que interessa mesmo é constatar que a maior parte do jornalismo atual é uma espécie de escória, uma amálgama de sujidade desprovida de princípios ou de caráter. Veja-se o sucesso que a página do Facebook Os Truques da Imprensa Portuguesa tem tido, denunciando a forma como as notícias são criadas, a parcialidade com que a realidade é descrita, clarificando, no fundo, o papel de lavagem cerebral ao qual a generalidade dos media se devota no seu dia-a-dia. Questionar se é pior agora do que há cinquenta anos, se agora fede mais a mediocridade intelectual do que antes, até pode constituir uma discussão interessante, mas não será, seguramente, a mais relevante das discussões.

 

É que a realidade é esta e é indesmentível. A realidade é que os jornalistas fazem o papel, mais ou menos voluntário, de escrever o que lhes é ditado superiormente e aquela ideia inocente do jornalismo enquanto sinónimo de informação não é mais que uma ilusão, uma quimera que nos é semeada no subconsciente desde tenra idade. E é aqui que é importante que se diga que o problema do jornalismo é justamente a existência de diretores de jornais, de diretores editoriais, de chefes de redação sem competência, sem currículo para ocuparem os lugares que ocupam e que só os ocupam por serem excelentes yes man's, excelentes vozes do dono. O parco currículo que detêm, construído precisamente do modo descrito, denuncia o seu papel em todo este processo que resulta neste tipo de jornalismo e no seu estado atual.

 

Poupem-nos, portanto, à habitual linha argumentativa dos Velhos do Restelo. Não cola.

 

http://brutalgamer.com/wp-content/uploads/2014/09/175862-header.jpg

 

publicado às 11:14

Uma questão de perspetiva

O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, reconhece que em Portugal há muito trabalho precário, mas não hesita em dizer que, na atual conjuntura, “mais vale ter trabalho precário do que desemprego”.

— in Público

 

Dizer que mais vale ter trabalho precário do que desemprego não é dizer muito. Também mais vale trabalho escravo do que desemprego (Valerá? Voltarei a este tópico mais tarde). Ou, visto de outra forma, mais vale trabalho precário do que ter uma doença grave. Bem vistas as coisas, a saúde é o mais importante!

 

Juntamente, condicionar o discurso à “atual conjuntura” não é, em tese, muito meritório. Porque a única conjuntura a que se tem acesso plenamente é fatalmente esta, a atual. Não há outra. As conjunturas passadas são hoje interpretadas de forma desconforme com o distanciamento que hoje delas temos. As conjunturas futuras são impreterivelmente de natureza insondável. Por consequência, mais do que não meritório, usar de um condicionalismo argumentativo face à “atual conjuntura” é intelectualmente baixo, porque procura condicionar o pensamento alheio com coisa nenhuma.

 

Voltando um pouco atrás, à referência ao trabalho escravo, devo dizer, em abono da mais pura das verdades, que há circunstâncias várias em que mais vale (!) o trabalho escravo do que o trabalho precário. Reparem que não estou a comparar a escravatura com o desemprego, agora. Com efeito, o trabalho escravo propiciava casa, comida e vestes gratuitas, quando em muitos casos, no mundo ocidental contemporâneo, o vencimento oriundo do trabalho precário não possibilita tais “privilégios”.

 

Torna-se, deste modo, imperioso colocar as coisas em perspetiva. É melhor ganhar quinhentos euros do que duzentos, mas também é melhor ganhar cem do que dez e é melhor ganhar dez do que nada. Analogamente, é melhor trabalhar quarenta horas do que cinquenta e é melhor trabalhar de sol a sol do que não ter onde trabalhar e ganhar o sustento. De acordo: esta lógica é brilhante, mas não nos conduz a lado nenhum. Ou, por outro lado, sim, leva-nos precisamente onde os senhores que António Saraiva representa pretendem: à redução das condições de vida dos trabalhadores aos limites infra-humanos da sobrevivência.

 

Termino com uma palavra de incentivo a António Saraiva: é bom sabermos que em Portugal há sempre alguém suficientemente iluminado no meio de toda a bruma de ideias que não hesita em dizer o que deve ser dito. Obrigado! E muita saúde para continuar sempre a defender os bons valores no superior interesse do país e do povo!

publicado às 21:56

Evidência da semana

Há um aspecto do comportamento dos portugueses que muito me desagrada. (...) Trata-se da tendência para ser subserviente face ao poder, ter muito respeitinho face aos poderosos, nalguns casos ter medo, e, depois de estes caírem do seu pedestal, ir lá a correr atirar a enésima pedra.

— José Pacheco Pereira, in Público, 19/12/2015

 

Todas as generalizações são injustas. Todas as generalizações são incorretas. Não olhemos para a citação acima como uma generalização, portanto. Salvaguardemos sempre o caso particular do caso geral. Antes, olhemos para a citação apresentada como um padrão comportamental obtido através de um processo de abstração, porque é exatamente isso mesmo que é: um padrão comportamental. E se existe alguma coisa de errado ou de impreciso no que foi escrito, é apenas a palavra “portugueses”. Não devia estar escrito “portugueses”, mas sim, “pessoas” ou, quanto muito, “pessoas do mundo ocidental”. E esta correção devia ser feita em razão da natureza superlativa deste padrão extraído especificamente da sociedade portuguesa, já que se estende por decalque a sensivelmente todas as pessoas das sociedades que se regem pela lei da selva a que chamamos de capitalismo. Podíamos ir, com efeito, mais longe ainda, já que relatos de comportamentos similares surgem plasmados em textos mais antigos, nomeadamente na Bíblia. Podíamos, mas não é preciso. José Pacheco Pereira escreveu-o a propósito do tratamento social dado a José Sócrates e tem toda a razão. Fez bem em destacar esta evidência comportamental que apenas nos desclassifica no plano intelectual e, mais importante, humano. Agora, para um domingo de manhã, creio que já chega de discorrer sobre o que é evidente.

publicado às 10:52

Ou mentiroso ou ignorante

Espanta-me esta sociedade em que vivemos onde frequentemente personalidades várias, proferindo falsidades facilmente verificáveis como tal, permanecem incólumes ao crivo da credibilidade social ou mediática. Pelo contrário, nada lhes sucede. O doutor permanece doutor, o senhor engenheiro continua senhor engenheiro e o senhor arquiteto mantém-se como senhor arquiteto, e todos eles mantêm as suas posições de destaque no espaço de opinião e de comentário social. Espanta-me que tal suceda desta forma. Para mim, alguém que diz uma falsidade ou é mentiroso ou ignorante. Não consigo vislumbrar sequer um meio termo, quanto mais uma terceira alternativa.

 

Nos dias que correm têm saltado, desde debaixo das pedras de onde vivem para a ribalta mediática, inúmeras personalidades, todas anticomunistas pejadas de um horror pela mera suposição do PS poder governar com o apoio parlamentar do Partido Comunista. Saltam com os chavões anticomunistas do costume, com as falsidades e as generalizações negativas que se conhecem. Uma destas personalidades foi António Barreto, a sinistra figura que dizem ser sociólogo. Na RTP3 disse o seguinte:

 

Em 100 anos, nunca vi um partido comunista no poder que governasse com eleições livres, com partidos políticos, com liberdade de expressão, sem exilados, sem presos políticos.

 

O jornal Público, honra lhe seja feita, publicou a prova dos factos que pode ser consultada aqui e que desmente cabalmente a afirmação caluniosa produzida.

 

Como referi no princípio, daqui só pode resultar uma de duas coisas: ou António Barreto é mentiroso ou é ignorante. Se é mentiroso, fá-lo com a intenção de poluir e de influenciar a opinião pública. Se é ignorante, então... simplesmente é. Mas uma das duas, reforço, será seguramente. As duas opções não abonam nem a favor do próprio, nem a favor dos canais de comunicação social que lhe dão voz, a ele e a outros como ele. Porque há muitos outros como ele.

 

Podemos constatar que este anticomunismo primário leva longe quem o adota. Por exemplo a Paulo Rangel, que também tem sido muito verbal neste particular, valeu-lhe o cargo de vice-presidente do partido popular europeu com a benção exclusiva de Angela Merkel.

publicado às 11:02

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