Podem Os Verdes ensinar alguma coisa ao PCP?
O PCP parece empenhado em desconsolar com as suas intervenções todos os progressistas que possuem um sistema nervoso central um bocadinho maior que um feijão germinado. Hoje, na sessão parlamentar de comemoração do vinte e cinco de abril, Jorge Machado foi o escolhido pelo PCP para discursar. Naquela oportunidade importante — que muitos canais televisivos transmitiram em direto — para se passar uma mensagem política foi absolutamente penoso acompanhar as palavras de Jorge Machado.
Apesar de ser já um parlamentar experiente, Jorge Machado revela-se perfeitamente inapto na arte da oralidade, perfeitamente incapaz no discurso, tanto pela forma como pelo conteúdo do mesmo. Incapaz de uma qualquer alteração na entoação discursiva, o monocórdico e aborrecido Machado fez o que pôde, e o que pôde foi, como seria de esperar, confrangedor, dispersando-se no acessório, no abstrato e perdendo o essencial e o concreto.
É preciso dizer, é preciso berrar, talvez, aos ouvidos da malta parlamentar do PCP que um discurso não deve ser uma introdução de uma tese de doutoramento. Um discurso deve ser focado em dois ou três pontos, no máximo, que se pretendem transmitir, deve ser objetivo, claro e apelativo, devendo ir de encontro ao público ao qual se destina a mensagem. Quem escreve os discursos no PCP, todavia, parece não perceber nada sobre o assunto.
Seria interessante que o PCP desviasse a atenção para o seu lado, para a sua própria criação política, Os Verdes, e para o brilhante discurso de Heloísa Apolónia. Foi objetivo, foi claro, foi focado e interessante em conteúdo, tendo tocado em tudo o que era necessário tocar no que diz respeito à ocasião e também à ordem do dia. Foi um discurso bem entoado.
Se calhar estou a ser injusto e o discurso de Jorge Machado nem foi tão mau assim. Eu é que não fui capaz de ouvir com atenção. E isso é um problema que o PCP não percebe, mas que talvez Os Verdes lhe possam explicar.