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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

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O governo sem oposição

Na Quadratura do Círculo exibida no passado dia 6 deste mês, Lopo Xavier alongava-se na sua tese de que as forças armadas portuguesas se encontravam ao abandono, a propósito do roubo ao paiol de Tancos, até ser interrompido por Pacheco Pereira que lhe disse que ele devia endereçar as suas preocupações a Paulo Portas e às opções políticas de sucessivos governos. Aí, Lopo Xavier encolheu-se num sorrisinho comprometido e não voltou mais a tocar no tema.

 

O problema do país é um pouco este. Escrevia Miguel Szymanski no DN que a geringonça havia dado o seu lugar à bagunça. É um texto carregado de um provincianismo com o qual não me identifico, no qual se faz uma apologia indireta ao que é estrangeiro face ao que é português. Quem é minimamente viajado e minimamente interessado pelo que se passa lá fora percebe facilmente que essa diferença é, quanto muito, simbólica, processual, e não se verifica em geral. Aliás, para chutar para canto rapidamente a tese de Szymanski, basta lembrar o recente caso do incêndio do arranha-céus de Londres, para perceber que, mais demissão menos demissão, a culpa morre solteira tanto em Lisboa como em Londres. Mas colocando de parte essas diferenças dogmáticas e para lá das eventuais intenções do autor com o seu texto, o artigo de Szymanski toca, de modo indubitável, na ferida aberta que é a política portuguesa atual.

 

Temos um governo minoritário, suportado por uma maioria parlamentar, que age como se fosse um governo maioritário. Com efeito, nada atinge este governo, nenhuma tragédia, nenhum escândalo, por maior que seja. Ao pé dos casos do incêndio de Pedrógão Grande e do roubo de armas de Tancos, a questiúncula das bofetadas de João Soares com que o governo abriu a legislatura parece, hoje em dia, exatamente aquilo que foi, uma brincadeira. Naquela altura, todavia, o governo parecia estar a apalpar terreno, a sentir o pulso à coligação. Agora, parece que António Costa percebeu claramente que nada tem a temer nem de PCP, nem de BE, os quais parecem positivamente paralisados na sua ação política.

 

A par desta situação, temos uma oposição sem um pingo de credibilidade, histérica, exigindo a este governo a antítese perfeita daquilo que ela própria foi, enquanto governo, na legislatura imediatamente anterior, mostrando-se radicalmente contra tudo aquilo que este governo faz e radicalmente a favor de tudo aquilo que este governo deixa de fazer. Como pode Lopo Xavier dizer o que diz, ainda que o que diz seja uma verdade evidente? É que era Paulo Portas, o pai, o mestre-arquiteto deste CDS, o próprio, o ministro da defesa, campeão dos cortes orçamentais nas forças armadas e decisor de investimentos no mínimo duvidosos, como a célebre questão dos submarinos.

 

A situação é esta. Temos um governo que faz proveito de uma situação ímpar da vida política nacional. Tanto à sua esquerda como à sua direita não tem oposição. À esquerda as forças políticas encontram-se paralisadas de movimentos, não se percebe muito bem porquê, talvez petrificadas com a ideia remota de Passos Coelho poder voltar ao poder. À direita as forças políticas encontram-se descredibilizadas a tal ponto que toda a sua ação passa despercebida, por muito que os media tentem, de todas as formas, lhes dar a voz que, manifestamente, já não têm. Estrebucham muito, fazem muita gritaria, mas ninguém as leva a sério.

publicado às 11:07

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