Montesquieu sobre a lei e a justiça
Montesquieu, imagem de linternaute.fr
Não existe tirania mais cruel do que aquela que é perpretrada sob o escudo da lei e em nome da justiça.
— Montesquieu
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Montesquieu, imagem de linternaute.fr
Não existe tirania mais cruel do que aquela que é perpretrada sob o escudo da lei e em nome da justiça.
— Montesquieu
O que assistimos neste final de semana a nível da nossa comunicação social, com particular ênfase sobre a escrita, é tão sério, é tão grave, é tão vergonhoso, que a pergunta que se impõe é: será que ainda temos ERC, Entidade Reguladora para a Comunicação Social, em Portugal? Será que ainda existe? E justiça? E lei?
Ficámos a saber que um jornal consegue, nos dias de hoje, ser simultaneamente investigador, acusador e juiz do que quer que lhe apeteça. Com efeito, a propósito do seríssimo caso e-toupeira que envolve graves relações de promiscuidade entre a justiça e o futebol, os jornais lembraram-se de plasmar nas suas primeiras páginas a fotografia de um jovem que alegadamente terá roubado documentos e estará na base do processo.
Será que sou só eu que acha este tipo de conduta inadmissível e indecente?
Será que sou só eu que considera que um jornal que faz isto devia ser imediatamente fechado e os seus dirigentes criminalmente responsabilizados?
Quem é que se responsabiliza se, depois desta obscena exposição mediática, sem qualquer tipo de julgamento ou condenação por tribunal habilitado para o efeito, acontecer algo que atente contra à integridade física deste jovem?
Ou será que é preciso que aconteça algo de grave para entrarmos em histeria e começarmos a apontar dedos ao óbvio?
Onde está a ERC?
Onde estão as autoridades?
Onde está o governo?
Que selva é esta em que um cidadão pode ser assim enxovalhado na praça pública, de um dia para o outro, apenas porque convém para encobrir outros factos mais graves?
É isto o estado de direito de que tanto falam?
O facto mais interessante que podemos retirar deste diferendo entre táxis e Uber é constatar que a esmagadora maioria da população forma a sua opinião com respeito ao assunto unicamente com base na sua opinião pessoal relativamente à classe profissional dos taxistas.
Num assunto de todo em todo técnico, que só tem que ver com a noção de equidade perante a lei ou, eventualmente, com o tipo de sociedade que mais apraz a cada um, seja mais socialista, seja mais liberal, o povo emite a sua sentença, diz de sua justiça, negligenciando tudo isto, e tomando em consideração, simplesmente, a impressão empírica que tem sobre o serviço prestado pelos táxis e a simpatia dos taxistas.
Se bem que estas constituem-se como informações da maior relevância para a discussão do serviço em si, apesar da sua natureza empírica, nada têm que ver com a discussão em causa. Isto diz muito, todavia, sobre a psicologia das sociedades. Isto explica muita coisa sobre o funcionamento da democracia.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.