Há um certo sentimento de melancolia no ar que respiro, como uma tristeza profunda que invade os dias com nuances mescladas de resignação e de desespero. É difícil enfrentar a dura realidade das coisas. O ser humano evolui tão devagar, mas tão devagar, que parece que, em cada momento, não evolui nada de nada. Em cem anos, parece que a evolução do ser humano foi nenhuma. O que movia e controlava as massas há cem anos atrás é o que move e controla as massas hoje em dia: a religião, Fátima; o desporto, o futebol; o jogo, euromilhões, totoloto, totobola, lotaria, raspadinhas e, agora, as novíssimas apostas desportivas da placard.
É deprimente.
Com Fátima a rebentar pelas costuras para ver o Papa que beija criancinhas e deficientes, lembro-me das palavras sábias do Padre Mário de Oliveira: as pessoas buscam fora de si as soluções para as suas vidas. Deus, a existir — acrescento eu —, vive dentro delas e não fora, age através delas e não enquanto uma entidade autónoma. É mais fácil, todavia, passar uma vida entretida com encenações, teatrinhos irrelevantes, com jogos sem nenhum interesse para além do lúdico — e, por vezes, nem esse — e não tomar nas suas próprias mãos a sua própria vida, o seu próprio destino.