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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

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Mais força que qualquer verdade

Como o mundo está cravejado de anticomunistas, qualquer coisa que se diga sobre um comunista, por muito estapafúrdio que possa soar, medra. Qualquer mentira que se diga torna-se verdade. Ninguém pensa sobre o que ouve ou sobre o que repete.

 

Noutro dia, ouvi esta barbaridade dita por um amigo meu: “o Fidel comia lagosta diariamente ao almoço, enquanto o povo passa fome”. A barbaridade não era da sua autoria. Leu-a de um adolescente anticomunista que, pelos vistos, trabalha para o Semanário Sol e escreve barbaridades para o Jornal i. Tenho notado que ser-se um ignorante anticomunista faz muito bem em termos de carreira. O adolescente vai muito bem lançado.

 

Em primeiro lugar, ninguém passa fome em Cuba e tão pouco existe mendicidade. Mas não dispersemos, vamos ao busílis da afirmação: a lagosta!

 

Quem tem o privilégio de visitar Cuba, mesmo aqueles que não saem das estâncias balneares de Varadero, todo incluido, mesmo aqueles que têm medo de se misturar no meio da multidão, conseguem vislumbrar, ao longe, no mar, pescadores cubanos, por vezes a bordo de uma simples câmara de ar, a pescar a dita cuja lagosta, em boa verdade, uma espécie de lagostim que existe em grandes quantidades ao largo da costa cubana.

 

https://static1.squarespace.com/static/55ce3521e4b07fb58fa23bd2/t/55d25f8de4b0232c1e4a4f8d/1439850435795/Local+lobsterman+shows+of+the+days+catch,+Jardines+de+la+Reina,+Cuba

 

Quem ouve tamanho disparate de que Fidel comia lagosta todos os dias, pensa que comer lagosta em Cuba é tão precioso como comer lagosta em Portugal. Mas não. É ainda mais comum do que comer sardinhas assadas. Se refletirmos um pouco, todavia, seria altamente improvável que Fidel mantivesse uma tal dieta e conseguisse simultaneamente atingir os noventa anos de idade.

 

Tive eu o trabalho de explicar tudo isto ao meu amigo. Ele, todavia, não ficou muito convencido. Prefere acreditar-se nos disparates do adolescente anticomunista que nunca visitou Cuba. É que na verdade, as barbaridades que se escrevem sobre Fidel e sobre Cuba vão de encontro ao que ele próprio acredita. E isso tem muita força. Tem muito mais força que a força de qualquer verdade ou evidência.

publicado às 21:19

As mentiras repetidas

Para uma mentira se tornar verdade basta que se repita muitas vezes. Esta é uma daquelas leis da natureza humana que devemos guardar.

 

Ainda a propósito da morte de Fidel Casto, tenho tido conhecimento de algo de natureza absolutamente insólita, para mim que vivi algum tempo em Cuba. Ao que parece, Cuba persegue as minorias, em geral, e os homossexuais, em particular. Parece que o país da alegria, da música e da dança, que faz da salsa um património da humanidade, celebrada todas as noites nas ruas das vilas, no calçadão de Havana, um país repleto de bares gay e com algum turismo vocacionado para o efeito, parece que, afinal, persegue os homossexuais.

 

Faz sentido?

 

Para mim, não faz sentido nenhum. Mas o sentido que faz ou que não faz não interessa aqui para nada. O que interessa é repetir a mentira até à exaustão e ela repete-se, com efeito, passando de boca em boca, pelos lábios vis de cada um dos papagaios do capitalismo com assento permanente — e não eleito, refira-se —, em cada um dos jornais escritos ou falados.

 

Outro dos disparates propalados é o dos “genocídios”, mas esse é já um fadinho a que regimes comunistas, ou simplesmente aparentados, estão condenados a ter que ouvir. De onde vêm os números, não se sabe muito bem. Se faz sentido que Fidel Castro tenha executado um número de pessoas muitas vezes superior à população cubana, também não. Nenhum sentido, aliás. Mas também aqui, a questão não é a conversa ser factual ou ter algum sentido. Também aqui, a questão é passar uma determinada mensagem de demonização da revolução cubana.

 

A questão é repetir a mentira, vezes e vezes sem conta, a toda a hora, a toda o momento, pelo maior número de vozes, para que até os relativamente ajuizados ou, simplesmente, céticos, passem a devotamente acreditar.

publicado às 17:41

Patria o muerte!

Fidel costumava dizer, em jeito de lema, “Patria o muerte!”. Dizia-o não com a superioridade com que o dizem os fascistas, não. Aquelas palavras não tinham nada de xenofobia ou de racismo. Pelo contrário, fosse qual fosse o momento, fossem quais fossem as circunstâncias, Cuba estava sempre preparada para enviar os seus médicos, os seus engenheiros, os seus quadros em geral, para acudir e ajudar todos os povos do mundo. Assistimos a isso mesmo, catástrofe após catástrofe, emergência após emergência.

 

Aquelas palavras transbordavam sim em amor àquela ilhota a flutuar entre o norte e o sul das Américas, amor pelas pessoas que lá viviam. “Patria o muerte!” significa “tudo pelo nosso país, tudo para sermos melhores, tudo para vivermos melhor, para sermos mais sábios e mais felizes”. Significa “orgulho, princípios e identidade”.

 

Disto temos muito pouco em Portugal. Com a visita dos reis de Espanha a Portugal ficou provado, aliás, que a nossa identidade é tão sólida como pasta de papel. As palminhas, as bandeirinhas espanholas, os “adeus”, a cavalaria da guarda — aliás, devem ter tido que alugar uma meia dúzia de cavalos à pressa para o efeito —, o Rolls Royce, as jantaradas nos palácios, os beija-mão e as vénias, foi tudo um espetáculo demasiado deprimente protagonizado pela nossa República de fingir.

 

De tudo, o mais grave, o mais nojento, pela simbologia, pelo desrespeito para com a nossa História, foi aquele momento de orgasmo incontido em que Rui Moreira, o presidente da Câmara do Porto, oferece as chaves da cidade ao Rei de Espanha! Reparem bem: o presidente da Câmara da segunda cidade de Portugal ofereceu as chaves da cidade ao Rei do país vizinho. Não há noção nem há um pingo de decência.

 

Para gente deste calibre, para gente desta qualidade, as palavras “Patria o muerte!” de Fidel só podem soar a grotesco por serem completamente incompreensíveis.

publicado às 20:48

Fidel Castro (1926-2016)

A propósito da morte de Fidel Castro, recordo a sua passagem por Matosinhos, onde discursou durante cerca de três horas no pavilhão a que se chama Centro de Desportos e Congressos. Não tenho a certeza de quanto tempo Fidel discursou, na verdade. Fidel era um orador assim, falava de improviso e tinha sempre muito para partilhar com os outros.

 

A data do evento foi 17 de outubro de 1998. Fidel havia-se deslocado a Portugal por ocasião da VIII Cimeira Ibero-Americana organizada naquele ano na cidade do Porto. O evento paralelo e fugaz de Matosinhos era, todavia, uma espécie de festa-comício de solidariedade Portugal-Cuba organizada pelo Partido Comunista Português, o único partido que, ainda hoje, se solidariza com o regime cubano. As pessoas confundem solidariedade com identificação e aceitação para com todos os axiomas do regime cubano, mas são conceitos diferentes, na verdade.

 

Ainda hoje, é interessante verificar que as reações mais abjetas à morte de Fidel provêm de partidos e órgãos teoricamente situados à esquerda no espectro político e não propriamente da direita, em geral. Creio, de mim para mim, que a questão cubana é uma das questões centrais para percebermos de que matéria ideológica somos feitos e, mais ainda, se somos homens de consciência plena ou rapazinhos a brincar à política e ao politicamente correto.

 

Desvio-me do que quero contar. O ano era 1998. Estávamos a mais de um ano de entrar na moeda única e havíamos entrado no clube europeu há relativamente pouco tempo. Os fundos europeus que nos começavam a inundar criavam a ilusão de que a nossa economia era melhor do que aquilo que realmente era e de que podíamos viver eternamente como enteados da Europa, sempre à espera de encher os bolsos à custa da mesada devida. Recordo as palavras de Fidel quando denunciou a armadilha em que caíamos voluntariamente. Nesse dia de 17 de outubro de 1998 Fidel disse que nos tornaríamos a curto prazo num país lacaio das grandes potências europeias e apontou o euro como o último prego no caixão da nossa soberania.

 

As palavras pareciam claras quando saiam da sua boca, substantivas, carregadas de conteúdo, marcadamente pronunciadas no seu castelhano com sotaque cubano característico, como era seu timbre, mas muitos de nós não podíamos acreditar plenamente. Acreditávamos em tese, bem entendido, mas sempre pensávamos para nós próprios, secretamente, que tal não se viesse a verificar. Mas veio. Palavra por palavra.

 

Fidel era um líder sábio, dono de um amplo conhecimento e mundividência que ia muito para além das fronteiras da sua ilha. Amava aprender. Amava perguntar porquê. Amava perceber os por que's. Interessava-se pela vida do seu concidadão, por perceber as suas angústias. Amava a arte em todas as suas formas. Amava a igualdade e a democracia. Amava o seu país e amava o seu semelhante.

 

É certo que Cuba tem um regime de partido único. Mas, dentro das fronteiras desse regime, a livre associação é uma realidade e as eleições internas que ocorrem regularmente na ilha têm taxas de participação brutais. Essas taxas deviam ser objeto de profunda análise das democracias ocidentais, as quais registam, em média, taxas de abstenção de mais de 50%. O analfabetismo e a iliteracia são pragas virtualmente erradicadas em Cuba. A maioria dos cubanos detém um grau académico de nível superior e, desde o nível primário até ao nível superior, os estudos são totalmente gratuitos. Como também é gratuita toda a assistência médica. Como também é gratuito o alojamento, o acesso à arte e à cultura.

 

Isto é igualdade e isto é democracia. Ponto. Comparem-se estes índices com qualquer outro país no mundo. E compare-se também a criminalidade e a paz social. Não é possível. Não há comparação. Ponto.

 

É verdade que Cuba tem pouco para distribuir e que podia obter melhores resultados se mais tivesse. Também é verdade que, mesmo após a normalização de relações diplomáticas com os Estados Unidos da América, o bloqueio económico sobre ilha prossegue, asfixiante.

 

É mentira que haja censura. É mentira que alguém seja impedido de escrever um livro ou de compor uma canção. É mentira que grupos politicamente avessos ao regime não se possam reunir e manifestar. Pelo contrário. Quem diz o contrário não sabe do que fala.

 

Um dos problemas é que as pessoas falam de Cuba sem nunca lá terem posto os pés, falam apenas com base no que lhes diz o preconceito gerado pelos media capitalistas. Alguns que lá colocam os pés decidem fazer montagens de imagens retiradas sem contexto cultural e analisadas sem qualquer laivo de bom senso. Mais: é frequente apontar-se defeitos à sociedade cubana como se no nosso próprio bairro esses mesmos defeitos não existissem em dobro ou, pior, como se ao regime cubano, apenas por ser o que é, não se possam admitir quaisquer tipo de defeitos.

 

Esta análise é muito própria do capitalismo: aos regimes não capitalistas, não alinhados, não se admite nada menos do que a perfeição e qualquer falha é exagerada e empolada ao máximo. Algumas reportagens sobre a morte de Fidel parecem já ter sido preparadas há anos para serem divulgadas na hora da sua morte. Isto sim, isto é censura da boa, lavagem cerebral no seu melhor.

 

Neste particular, destaco a execrável peça biográfica apresentada pela RTP por um “jornalista” chamado de João Pacheco de Miranda. Nessa peça, o jornalista conseguiu a hercúlea proeza de condensar todos os chavões e todos os lugares-comum que era possível dizer sobre Cuba. Achei particular piada ao automóvel a ser puxado por um cavalo e ao ênfase dado ao transporte de uma gaiola de pássaro.

 

É engraçado: eles, os cubanos, com um e dois cursos superiores cada um, com todas as garantias objetivas que é possível ter para a felicidade, são como pássaros engaiolados e nós, portugueses, europeus e ocidentais, que temos que lutar todos os dias pela nossa côdea de pão e que recebemos doses industriais de Casas dos Segredos, novelas e música ordinária, somos livres. É muito engraçado mesmo.

 

Também é engraçado que, das várias vezes que estive em Cuba e passeei, livremente, pelas cidades e vilas, sem qualquer tipo de proteção ou de receio — facto praticamente singular em todo o continente americano —, nunca vi um cavalo e nenhum automóvel avariou durante o privilégio que foi circular a bordo daquelas verdadeiras peças de museu dos anos cinquenta. É estupendo como o “jornalista” da RTP conseguiu encontrar um cavalo a puxar um carro! Que papel, Sr. João Pacheco de Miranda! Que papel! É isto o livre jornalismo. É desta forma que o capitalismo (re)escreve a história. Parabéns!

 

Naquele evento de 17 de outubro de 1998 participou o Jorge Palma e o Luís Represas. Lembro-me deles. Acho que participou mais gente, mas não me recordo. Também falou o José Saramago. Depois falou Fidel. Terão sido três horas, podiam ter sido cinco ou seis. Era um prazer ouvir Fidel discursar. Essa era a sua riqueza. Fidel morre sem nada seu, sem nenhum bem. A sua vida foi para o povo. O seu legado é a sua vida e o seu exemplo. Hasta siempre! Obrigado!

 

http://www.matosinhosport.com/fotos/galerias/5_1224164370717999801.jpg

publicado às 17:22

O que fez Obama?

Falava há uns dias com uma querida amiga sobre o legado de Obama como Presidente dos Estados Unidos da América. Dizia-me ela: “Obama sempre foi melhor do que Bush...”; ao que eu retorqui: “Foi? O que fez Obama?”. A conversa prosseguiu sem que surgisse uma resposta clara à minha inocente pergunta.

 

“O que fez Obama?”.

 

Foi melhor do que Bush? Eventualmente. Mas será que foi mesmo? Será que, para lá da sua eloquência e superior capacidade oratória, existem diferenças políticas realmente substantivas?

 

Bush ficou marcado pelo onze de setembro e pela sua selvática e idiota reação que empurrou a América e meio mundo para bombardeamentos sem fim no Afeganistão e no Iraque. Mas Obama fez essencialmente o mesmo na Líbia e, agora, na Síria. Pode não ser tão violento nos métodos, preferindo armar e pagar a grupos de mercenários para por ele sujarem as mãos e causarem o caos político nesses países, mas essencialmente trata-se da mesma coisa. No mais, em termos de política externa, são como faces da mesma moeda.

 

Obama veio com a ilusão de ser o primeiro Presidente da América negro e, a reboque, trouxe inúmeras promessas, três das mais relevantes foram: um sistema público de saúde (obamacare), o retirar as tropas do Iraque e do Afeganistão e o encerramento da prisão de Guantanamo (o gulag norte-americano). A pouco tempo de terminar o seu segundo mandato, o saldo de tudo isto resume-se... ao facto de Obama ter sido, com efeito, o primeiro Presidente da América negro. Sim... a lista termina aqui.

 

Há quem diga que enfrentou e derrotou a seríssima crise financeira e económica, a crise do subprime, que assolou a América e que contagiou o resto do mundo capitalista. Teve o azar de ter tido que enfrentar uma destas crises cíclicas que afetam o capitalismo. Tudo isto é verdade, mas também é verdade que resolveu o problema, por ora, à custa de um exponencial aumento de dívida. Acrescente-se que a dívida americana, se já era um monstro incontrolável, com Obama tornou-se numa besta de duas ou três cabeças. Convenhamos que resolver uma crise económico-financeira é muito mais fácil se pudermos proceder a injeções virtualmente ilimitadas de capital no sistema.

 

Há, contudo, uma singular e preciosa ação de Obama que ficará para sempre nos anais da História e que talvez apenas ele pudesse ter levado a cabo e que consistiu no retomar das relações diplomáticas dos Estados Unidos da América com Cuba. Já não sobrava qualquer argumento justificativo para tal atitude e, com o patrocínio do Papa Francisco, bastou a Obama tomar esse evidente passo, todavia ainda grotescamente difícil, enfrentando uma violenta oposição interna. Obama ficará na História política por isto. O facto de ser o primeiro negro a ocupar o cargo tornar-se-á apenas numa mera curiosidade antropológica.

 

Poderemos sempre argumentar sobre o papel de Obama no processo. Terá sido um agente mais ativo ou mais passivo? Ou terá sido simplesmente apanhado pelo discorrer indelével das areias do tempo? Ou do destino?

 

Os Estados Unidos só voltarão a dialogar connosco quando tiverem um presidente negro e quando houver no mundo um Papa latino-americano.

— Fidel Castro, 1973

 

 

publicado às 09:23

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