Notas sobre a nova configuração parlamentar
Por estes dias há um novo governo em Portugal que se apresenta na Assembleia da República com capacidade efetiva de legislação e de governação. É um governo minoritário do Partido Socialista que terá que ter, pela sua condição minoritária, uma capacidade permanente e genuinamente generosa de negociação a nível parlamentar. Faço votos para que, ao contrário do passado, essa negociação se proceda pela primeira vez muito mais à esquerda do que à direita e que isso se traduza em políticas concretas que concorram para o equilibrar da sociedade, tão economicamente desequilibrada nas últimas décadas.
Para já existem sinais muito animadores mas nada de concreto pelo que resultaria prematuro um qualquer juízo de valor. No tempo preciso a análise será feita.
O que é importante notar, em minha opinião, é o comportamento das bancadas de direita no quadro desta nova configuração parlamentar. Já sabíamos que a enfastiante repetição de mentiras e de disparates sobre o processo de formação deste governo veio para ficar, pois não existe ninguém, nem ao menos o próprio Presidente da Assembleia da República, segundo representante máximo do país, que os faça calar ou que os expulse do hemiciclo por reiteradamente insistirem na mentira descarada, na calúnia reles e no disparate simplório que atingem transversalmente todas as instituições da República. Devia existir uma disciplina nalgum ciclo de aprendizagens básicas que ensinasse aos nossos jovens a letra da Constituição para que este tipo de situação não passasse em claro e para que houvesse um outro tipo de exigência social. Mas para tudo isto já estávamos bem avisados.
Para o que não estávamos avisados era para a falta de educação e de respeito que agora existe. Sem querer generalizar, porque seria incorreto da minha parte, mas apontando o dedo a toda a bancada que se situa à direita do Presidente da Assembleia, por pelo menos cumplicidade para com os atos, deve-se classificar como inadmissíveis os comportamentos adotados por uma boa franja de deputados de psd e de cds. Refiro-me aos insultos descarados, aos zurros, às sonoras gargalhadas, ao gozo permanente que irrompe daqueles lados do hemiciclo, qual aldeia dos macacos do jardim zoológico, sempre que algum deputado do outro lado usa da palavra. Para quem, como eu, acompanha as atividades parlamentares, estas atitudes, não sendo genuinamente novas, atingiram o patamar mais baixo, mais escandaloso, de sempre e prometem não ficar por aqui. Os deputados em causa tão pouco se importam com o facto de estarem a passar em direto na televisão.
Uma vez mais noto a incapacidade ou inação, talvez por impossibilidade, do Presidente da Assembleia da República em impor a ordem, o respeito e o decoro durante os trabalhos. Seja por incapacidade ou por impossibilidade, a situação é uma vergonha e ameaça seriamente a estabilidade do sistema democrático.