Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Uma medalha de bronze nos Jogos Olímpicos 2016 é mau? Não: é muito bom.

A participação portuguesa nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro resultará numa medalha de bronze. Estatisticamente e probabilisticamente falando, parece-me justo. Claro que a realidade pode sempre colocar em causa todos os prognósticos. É verdade que podíamos ter mais uma ou outra medalha fruto de uma conjunção de muitos fatores aleatórios como são a inspiração ou a sorte, a própria e a alheia. Mas volto ao início: uma medalha de bronze é mais do que justo.

 

Nos últimos vinte anos — desde 1996 — a média de medalhas portuguesas nos cinco Jogos Olímpicos disputados é de exatamente duas medalhas. A obtenção de uma medalha desvia-se em uma singela unidade da média não constituindo, por isso, facto estatisticamente escandaloso. Sublinhe-se, porém, que esta é a melhor média que conseguimos encontrar no histórico das participações lusas. Com efeito, se recuarmos mais vinte anos — para 1976 —, a média já desce para 1,6. Se incluirmos o tempo do fascismo — a partir de 1960 —, a média cai para 1,2 medalhas.

 

A média aritmética, contudo, é apenas um valor indicativo. Aponta para um certo ponto de equilíbrio no conjunto dos dados. Quando olhamos para os sucessivos resultados obtidos por Portugal nas Olimpíadas, verificamos que a obtenção de uma medalha não é chocante, é natural, como seria também natural obter duas ou, até, nenhuma. A obtenção de três medalhas é que já seria mais surpreendente, já que apenas por duas vezes ocorreu (1984 e 2004). Resulta, portanto, claro que o resultado português é ajustado estatisticamente.

 

Do ponto de vista probabilístico, há que analisar a dimensão e a qualidade da comitiva portuguesa quando comparada com as outras comitivas, nomeadamente aquelas que obtêm uma grande quantidade de medalhas. É que não podemos competir, objetivamente e realisticamente, contra comitivas muito mais numerosas, cada uma das quais com números ou records individuais superiores ou, quanto muito, não inferiores aos nossos melhores. É uma questão de probabilidade: se Portugal dispõe de um atleta candidato a uma medalha e outros países dispõem de dois ou de três, é mais fácil não se ter sorte e é mais difícil que esse outro país tenha azar.

 

Com isto não quero dizer que Portugal estará sempre condicionado à obtenção de um número diminuto de medalhas — nada disso. Pelo contrário, quero apenas apontar o óbvio e o óbvio é que Portugal apenas colherá as medalhas que souber plantar ao longo do tempo. Não se pode — realisticamente falando — esperar medalhas quando se olha para o desporto de forma genericamente amadora. O desporto escolar em Portugal, por exemplo, é uma anedota, e é aí que tudo começa, é aí que se começa a germinar aqueles que serão os campeões do futuro.

 

A cultura de deporto olímpico em Portugal é simplesmente paupérrima e a importância social que tem é inexistente. Veja-se o tratamento que a comunicação social dá às diversas modalidades. A regra é: se não for futebol, não passa; depois, se houver medalha lança-se um foguete esporádico e finge-se exacerbado orgulho, se não houver medalha, grita-se deceção. Isto é sério? Não me parece.

 

Se Portugal não promove e não valoriza seriamente as modalidades olímpicas, não poderá colher medalhas de forma consistente e as suas vitórias serão sempre ocasionais.

 

Tiraste dez no exame e estás chateado? Estudaste? Não? Então cala-te e dá-te por satisfeito.

 

Uma medalha de bronze nos Jogos Olímpicos 2016 é mau? Não: é muito bom.

publicado às 09:59

Mais sobre mim

imagem de perfil

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub