Apriorismo de opinião
No que à formação de opinião diz respeito, confesso-me apriorista. Nem racionalista, nem empirista: apriorista.
Ainda antes de observar o problema ou diferendo em detalhe, muito antes de conhecer os factos que o rodeiam, a pessoa humana contém dentro de si a sua resposta que não é mais do que o resultado de um posicionamento político a priori. É verdade que essa resposta pode sofrer alterações com a experiência e com a influência do meio, todavia cabe a algo que reside no lugar mais íntimo e reservado do indivíduo a primazia no momento da formação de opinião. Nada é tão marcante ou duradouro quanto a bagagem sentimental, não racional, de que o indivíduo é dotado no momento da sua conceção.
E é por esta acurada razão que toda a transformação social, política ou, simplesmente antropológica, é tão morosa, tão árdua, em que cada passo lançado em diante parece preceder dois passos dados à retaguarda. Por vezes, parece que cada revolução resulta da indução massiva de um certo estado de ebriedade, findo o qual as massas rejeitam o processo e retomam o estado de equilíbrio anterior, aquele que mais vai de encontro ao seu posicionamento político apriorístico.
Por feliz e virtuoso acaso, entre uma e outra revolução permanecem resquícios, como que sementes revolucionárias, que se agarram ao solo e ganham raízes e a Humanidade assim evolui, lentamente, semente a semente, entre cada descuido da sua própria essência.