Ninguém compreende Nash
John Nash foi um matemático brilhante que marcou a ciência sobretudo pelos seus estudos em Teoria de Jogos. As aplicações da sua teoria inovadora valeu-lhe, em 1994, a atribuição do Prémio Nobel em economia. Mas que teoria foi essa afinal?
A Teoria de Jogos é um ramo da Matemática que se preocupa com o estudo de jogos num sentido lato do termo, isto é, por jogo devemos entender uma competição entre duas ou mais partes. Nash dedicou-se particularmente aos jogos não cooperativos, onde, genericamente, cada parte atua individualmente em competição. Ao contrário do paradigma até então que defendia que cada parte competia pelo prémio máximo procurando eliminar os adversários dessa forma retirando-lhes qualquer ganho, Nash defendeu na sua tese de doutoramento que, pelo contrário, as partes tendiam a chegar a um entendimento, ou acordo, que permitisse a todas não perder e a garantir ganhos estáveis e repartidos. Este entendimento é chamado de equilíbrio de Nash e as suas aplicações à economia são evidentes. Mais: a existência do equilíbrio de Nash é natural e espontâneo: chama-se cartel ou cartelização. A título de exemplo, veja-se o que sucede com o preço da gasolina previamente acordado por todas as marcas fornecedoras. É igual, não é? Mas não devia ser. É o equilíbrio de Nash!
O problema é que ninguém compreende Nash, verdadeiramente. Ninguém compreende o alcance da sua teoria e do seu equilíbrio, por muitas vezes que vejam Uma Mente Brilhante. O equilíbrio de Nash diz-nos uma coisa tão simples quanto isto: a existência do mercado livre é uma mera abstração. Não tem correspondência com o real.
No ano novo que aí vem vamos ser confrontados novamente com uma nova manifestação do equilíbrio de Nash. Face aos aumentos obscenos das tarifas da eletricidade na EDP que se anunciam, os nossos governantes, impotentes e serventuários perante o poder económico, mandam-nos procurar alternativas na concorrência. Vamos, então, ficar muito admirados quando comprovarmos que toda a chamada “concorrência” do mercado da eletricidade vai oferecer preços muito semelhantes aos praticados pela EDP.
É o capitalismo no seu esplendor! Nash explica-o.