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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Este sistema está a transformar-nos

As pessoas não conseguem entender como este sistema que elegemos para nos organizarmos coletivamente nos está a transformar enquanto seres humanos. A transformação está a ser rápida e dramática.

Quando eu era uma criança era normal brincar na rua com as crianças vizinhas ou, simplesmente, sozinho. Era normal explorar os arredores de bicicleta. Era normal aventurar-me no desconhecido, ser curioso e, até, falar com estranhos, conhecer as pessoas em redor, não obstante os avisos de cautela da mãe e do pai. O que era normal deixou de o ser.

Os tempos, é claro, são outros. Há um trânsito ininterrupto e perigoso nas grandes cidades e nos subúrbios destas. Há também uma outra consciência dos perigos vários que existem, e que não são verdadeiramente novos porque sempre existiram de uma ou de outra forma, em maior ou menor grau, e há um outro cuidado com os mais jovens que desaconselha as liberdades que gozei no passado. As crianças estão, naturalmente, mais controladas e protegidas, fechadas nos seus quartos confortáveis e rodeadas de entretenimento impessoal. Diferenças à parte, todavia, a nota dominante parece ser a da desconfiança.

Em meio século as sociedades tornaram-se dominadas pela desconfiança. É a desconfiança do outro que, em última análise, justifica os medos que nos dominam e que condicionam as nossas ações. Não será assim? De onde vem essa desconfiança que outrora não existia? É evidente que esta pergunta não poderá ter uma resposta definitiva, mas eu arriscaria que esta desconfiança de que falamos advém das próprias vísceras deste mesmo sistema que nos coloca, diariamente, numa luta pela sobrevivência de uns contra os outros, uma existência em que nos vemos como inimigos mútuos e não como parceiros, uma sociedade que coloca o indivíduo à frente do coletivo, um utilitarismo sem sentido que tudo justifica em função do resultado final.

Em cinquenta anos ganhámos muita coisa, pelo menos alguns de nós, em termos de bem-estar e qualidade de vida, mas o que ganhámos, não tendo sido suportado numa lógica de solidariedade e de comunidade, fez de nós indivíduos mais egoístas, mais individualistas e, claro, menos solidários. Este sistema, que podemos chamar de capitalismo, para simplificar, está a transformar-nos. É preciso que tenhamos consciência disto e, também, que tenhamos uma ideia clara do tipo de seres humanos em que nos estamos a tornar.

publicado às 14:49

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