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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Negociação entre uma parte e o todo

Quando alguém negoceia o que quer que seja não há um lado bom ou um lado mau. Não há um lado justo e outro injusto. Mais: não há moral e imoral. Quando duas partes negoceiam sobre algo há apenas isso: duas partes com interesses necessariamente distintos, embora podendo ser mais ou menos convergentes aqui e ali, que procuram assegurar o melhor acordo possível. Mas este melhor acordo não é algo vago, não permanece etéreo numa espécie de dimensão da justiça e da moralidade. Não: este melhor acordo é aquele que melhor serve as partes. Em geral, quanto melhor se revelar para uma, pior será para a outra.

 

Neste sentido, torna-se numa experiência plena de surrealidade a de assistir às continuadas declarações do Primeiro-ministro português sobre as negociações com a troika. Chega a ser absurdo, mesmo. Como pode um líder de um país dizer que o que os credores querem é o melhor para nós? Como pode? O desenvencilho deste aparente absurdo apenas se faz se percebermos que, afinal, não existem duas partes a negociar, mas apenas uma. Trata-se de uma negociação de uma só pessoa consigo próprio ou com uma parte de si, entre uma parte e o todo.

 

No momento em que a Grécia, bem ou mal, procura um melhor acordo para o seu financiamento, estando totalmente no seu direito, vem o Primeiro-ministro português tecer rasgados elogios aos credores e veladas críticas a esta política natural dos gregos, tão natural quão surreal tem sido a ação do governo português. Tudo isto é surreal ou, talvez, elucidativo.

 

No filme Django Libertado há uma ideia que permaneceu no meu espírito. O principal obstáculo à liberdade dos escravos não eram os seus donos. Os grandes inimigos dos escravos eram os próprios escravos, seguidistas, delatores, invejosos dos que ousavam levantar a cabeça, não obstante partilharem o mesmo destino. Pensavam eles, iludidos, cair nas boas graças dos senhores esclavagistas para daí retirar algum proveito. Lamentavelmente, no plano da política internacional, o Primeiro-ministro português age exatamente do mesmo modo.

 

 

publicado às 11:20

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