Uma questão de fé
Ao mesmo tempo que escrevo sobre os menos afortunados da vida, aqueles que escolheram o lado errado da cama para acordar de manhã, parece que me esqueço dos outros, aqueles cerca de cinco pontos percentuais que, em boa verdade, nunca ganharam tanto como agora. Existem certos princípios de vida que são como que insofismáveis. Um deles é que “não há melhor altura para ganhar dinheiro do que em tempos de crise”. Entenda-se, contudo, a palavra “ganhar” como um eufemismo descarado.
A riqueza, sendo de natureza finita, tem destas coisas. É relativamente fácil de perceber: quando uns perdem, e tantos perderam tanto, outros têm de ganhar, e os poucos que sobram ganham tudo o que os primeiros perderam. Não há grande volta a dar à questão. Mas é mais fácil tratar o assunto se o pusermos claramente como ele é.
Mas o que é surpreendente, verdadeiramente surpreendente, é que uma parte da população encare esta realidade objetiva ignorando a sua perniciosidade latente. Com efeito, são muitos os que rejubilam com os lucros crescentes dessas “empresas” interpretando-os como sinais positivos da economia. Devem pensar: o dinheiro está bem entregue nas mãos daqueles senhores, eles saberão o que fazer com ele pelo meu bem. Como escrevi num post anterior, é preciso notar como se faz a retribuição social desses lucros e para onde vai esse dinheiro. Existe maior investimento? Mais empregos? Melhores salários e condições de trabalho?
É preciso estar atento. Porque acreditar na solidariedade social dos empresários é acreditar na inversão da sua natureza. Não é mais do que uma questão de fé.