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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

Porto de Amato

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Palavra do dia: pipocar

Deixo-vos hoje um estudo de Eugénio Rosa sobre a qualidade da gestão da Caixa Geral de Depósitos que, nos dias que correm, tem vindo a ser celebrada de modo mais ou menos generalizado e analfabeto.

 

Nada do que é dito é surpreendente. Qualquer indício de bom-senso seria suficiente para adivinhar as conclusões deste estudo as quais vêm ao encontro do que tem sido discutido neste espaço. Tentemos fingir alguma surpresa quando a Caixa pipocar.

publicado às 11:35

Haja imaginação

É necessária uma dose generosa de imaginação para pensar que o governo, sendo acionista com metade do capital da TAP, nada sabia sobre os prémios obscenos distribuídos esta semana pela empresa aos seus “gestores de topo”.

 

Em boa verdade, é irrelevante aqui para o caso que o governo detenha 50%, ou 25%, ou 10% que sejam, do capital da empresa. Até poderia nem ser acionista. Por um lado, toda a gente conhece a substância de abjeta promiscuidade entre o mundo dos negócios e o governo. Ao longo dos tempos, temos assistido — vimo-lo, ninguém nos contou — a abundantes exemplos de nomeações, passagens diretas de membros de variados governos para as administrações de bancos e empresas que, em tese, nada teriam a ver com o estado. Mas aconteceram. Por outro lado, também é claro que esta reversão da privatização da TAP anunciada no início deste governo mais não consistiu do que uma encenação em que se fingiu que o governo continuaria a mandar na empresa através da nomeação de uma série de personagens para uma comissão executiva ou de gestão. Na prática — seria importante que disto tivéssemos plena consciência — a TAP, tal como a conhecíamos, foi desmantelada para sempre. Foi entregue a um grupo de cavalheiros de trémulo “prestígio” na “gestão” de empresas do género no continente americano, e este grupo de cavalheiros fará na TAP o que desta empresa bem entender. Tendo-lhe aberto a porta do negócio europeu, o governo terá uma próxima palavra a dizer quando — e apenas quando — for preciso avançar com o dinheiro para tapar os proverbiais buracos que hão de chegar. Até lá, e porque o capital recompensa sempre os seus servos, ei-los, os prémios de produtividade para os “gestores de topo” da TAP, responsáveis por supressão de rotas, concentração da atividade em Lisboa, definhamento dos serviços essenciais ao desenvolvimento do país e, claro, de um ano recorde em termos de prejuízos. Reparem que isto é obra: na Caixa Geral de Depósitos, por exemplo, Paulo Macedo reduziu o maior banco do país a metade e, com isso, apresentou lucros. Na TAP nem isso foi conseguido. Há que valorizar o facto!

 

Mas voltando ao princípio do texto, é extraordinário pensar que o governo, depois de ser acionista maioritário, depois de ter a “família” espalhada pelos conselhos de gestão ou administração da empresa, depois de terem sido lavrados os contratos que preveem precisamente estes prémios que foram pagos aos “gestores de topo”, venha agora, depois de o assunto vir a público — sublinhe-se este facto, porque é sempre depois, nunca é antes —, dizer-se muito chocado e muito contra.

 

Haja imaginação. Haja imaginação que é o que é preciso.

publicado às 08:41

Gestão "de topo"

Gestão “de topo”, conversa fiada, “economês”, ignorância, muita ignorância de raiz, de natureza primária. É isto que temos para construir um país. É isto que nos sobra para erguer Portugal.

 

Em linha com o que tem sido escrito e avisado neste blog, nos últimos anos a Caixa Geral de Depósitos, o banco público, perdeu mais 4450 milhões de euros em depósitos.

 

É muito dinheiro.

 

Podem consultar aqui o estudo de Eugénio Rosa que aponta esta e outras consequências dos “excelentes” atos de gestão do gestor “de topo”, que tanto serve à direita como à esquerda, Paulo Macedo.

 

A Caixa está a definhar com o beneplácito da nossa indiferença e da nossa ignorância. Parece que não há educação que cure esta peste que nos assola enquanto povo.

publicado às 21:48

A Caixa está a morrer e ninguém quer saber disso

O que está a acontecer à Caixa Geral de Depósitos é assustador mas também é revelador de uma assustadora fragilidade dos alicerces que sustentam a nossa sociedade.

 

Outrora o banco mais sólido e mais confiável do país, com uma credibilidade incrementada pelo estado que somos todos nós, a Caixa está a ser desmantelada peça por peça e no final deste mesmo ano civil já não restará nada a fazer sobre o caso.

 

Sobre este assunto escrevi no início deste mês um artigo algo inflamado que pouco ou nenhum eco teve.

 

A Caixa está a morrer, matam-na com plena consciência, e ninguém quer saber. Por ventura a Caixa teria para mim um significado que para os outros não tem ou nunca teve. Mas independentemente de sentimentalismos que, objetivamente, não têm lugar nesta economia de mercado de bestas selvagens, a morte da Caixa é o estado a dizer categoricamente e de uma vez por todas que a economia do país está entregue nas mãos da alta finança burguesa. Não é que informalmente isso já não fosse assim, mas agora não é mais informal, é formal mesmo, de papel passado e assinado por todos.

 

A Caixa está a morrer e ninguém quer saber disso. Espanta-me, em particular, o conjunto dos funcionários da Caixa e os seus movimentos sindicais. Vivendo o seu dia-a-dia sob o cutelo do encerramento dos seus postos de trabalho, da mobilidade e do despedimento, vendo claramente o que se está a passar in loco e melhor do que ninguém, todos eles com graus universitários em economia e finanças, encontram-se perfeitamente paralisados de movimentos. Todos eles percebem bem o que se está a passar. Alguns ensaiam justificações mais ou menos patéticas quando se lhes dirige alguma pergunta. Outros encolhem os ombros. Quando a Caixa fechar fechará para todos, independentemente das patetices das justificações. O tempo de agir foi ontem e é agora. Se calhar ainda vão a tempo.

 

Mas não me parece.

 

O que me parece é que só ensinam imbecilidades e patetices nestas faculdades de economia e finanças. E ensinam este pensamento único deste capitalismo obsoleto que apenas serve a concentração da riqueza e a exploração dos povos.

 

A Caixa está a morrer mas antes de darmos plenamente por isso ainda vamos conviver com ela em modo de cadáver por alguns anos. O cadáver da Caixa vai continuar, minimal, com número reduzido de balcões, a atender os reformados e os pensionistas pobres aos quais não são cobradas taxas de manutenção de conta. Depois, mesmo esses, tal como os outros, serão também corridos da Caixa e far-se-á o enterro do cadáver.

 

Custa-me muito descrever por palavras isto que a direita — da qual o governo é ator principal — está a fazer à Caixa. Custa-me muito que ninguém queira saber disto, nem povo, nem Partido Comunista Português, nem Bloco de Esquerda, nem sindicatos, nem ninguém. Todos assistem à morte da Caixa e ninguém diz nada, ninguém faz nada. Que tenham a dignidade de não verter uma única lágrima hipócrita quando a Caixa morrer.

 

PCP e Bloco apoiam o governo e, por inerência, o que o governo faz. Não há meio termo. Assumam-se! E, já agora, poupem o país às inúteis comissões de inquérito parlamentares do costume e à procura de bodes expiatórios para o assunto quando o assunto estiver concluído. Paulo Macedo está a matar a Caixa agora tal como o governo lhe pediu. É tirá-lo de lá agora enquanto é tempo. Amanhã será tarde. Preocupem-se com isto em vez desta ou daquela migalha no IRS na negociação do orçamento de estado. Preocupem-se não em garantir migalhas mas em obrigar o governo a não governar à direita em tudo o que realmente interessa.

publicado às 12:25

Matam a Caixa nos Paços do Governo! Acorrei à Caixa que a Matam!

Tomei de empréstimo uma citação da Crónica d'el-rei D. João I, o Mestre de Avis, Matam o Mestre nos Paços da Rainha! Acorrei ao Mestre que o Matam!, para começar este relato que me enche de tristeza e de preocupação pelo meu país.

 

O processo que está em curso, a todo o vapor, na Caixa Geral de Depósitos é de uma gravidade tremenda. Todavia, o país não parece perceber bem o que se está a passar.

 

Até ao final deste ano civil uma substancial parte dos clientes do banco público de Portugal mudar-se-ão para outros bancos. A razão é simples: as absurdas comissões que a Caixa vai começar a cobrar a partir de setembro a todos os clientes, mesmo àqueles que têm o seu salário domiciliado na Caixa.

 

Muitas pessoas já começaram a fechar as suas contas no banco público e este mês de agosto promete ser muito movimentado. As transferências para outros bancos onde tais comissões não são cobradas multiplicam-se. Contudo, é de esperar que uma maior percentagem, menos informada, tome essa decisão uma vez que comecem a ser cobradas as comissões mensais a partir de setembro.

 

Nos próximos tempos a Caixa Geral de Depósitos, outrora um banco forte e de confiança, converter-se-á num banco minimal, servindo apenas uma parte dos reformados, pronto a ser absorvido por um Santander qualquer e a desaparecer do mapa, cumprindo-se assim o ansiado desígnio da direita.

 

Não é irónico que o PS tenha sido o elegante carrasco da Caixa. Não é nada irónico. O PS está, como sempre esteve, ao serviço do grande capital e dos seus objetivos. O que é irónico é que o tenha feito com o apoio de Bloco de Esquerda e de Partido Comunista Português. Nem adianta invocar as diferenças que existem entre estes partidos. Se o PS — que até foi resgatar o cacique do outro governo, Paulo Macedo, para levar a cabo a empreitada — logrou cumprir o desmantelamento da Caixa Geral de Depósitos, fê-lo porque BE e PCP assim o permitiram. E acrescento ainda o seguinte: de pouco valerão as expectáveis manifestações populares organizadas por estes partidos para que a Caixa não feche. As roldanas já foram postas em movimento. O processo de raquitização do banco público é virtualmente irreversível.

 

Mas se algumas pessoas já começam a ver com clareza o que parece ser inevitável, a verdade é que poucos percebem a gravidade da situação. O estado português vai perder o seu banco público. O estado português vais perder a sua única ferramenta de intervenção na banca e uma das poucas que ainda tem para agir sobre a economia do país. Tal situação é impensável em qualquer país soberano. Absolutamente impensável! Mas é para aí mesmo que caminhamos, para um estado sem gota de soberania, um não-país, um lacaio declarado da Alemanha e do diretório de potências imperialistas mundiais onde o dinheiro e o poder se conserva e se multiplica.

publicado às 23:12

Paulo “Surreal” Macedo

Para mim é surreal ver o mesmo Paulo Macedo que foi ministro porta-estandarte do governo PSD-CDS e, portanto, conivente com toda a panelinha que conduziu ao calamitoso estado atual da Caixa Geral de Depósitos, a assumir o papel de salvador da Caixa Geral de Depósitos e a dizer coisas como: “Não se percebe como deixaram a CGD chegar a estes pontos!!...”.

 

Surreal!

 

De resto, nota-se coerência no homem, lá isso nota-se! O plano de Macedo, seja para onde quer que ele for chamado, é sempre o mesmo: cortar, cortar e cortar. Na CGD vai acontecer — já anda a ser anunciado — o mesmo que aconteceu no ministério da saúde: cortes sobre cortes, despedimentos massivos, encerramento de agências, que é para endireitar a coisa. Consta até que, certa vez, para salvar a sua família, Macedo terá despedido um cão e dois periquitos amarelos, porque estes lhe estavam a dar muita despesa e a tornar a sua situação inviável.

 

Volto a repetir: não percebo porque é que Paulo Macedo é especial e por que é pago a peso de ouro. Qualquer um faria o mesmo. O difícil é reorganizar e otimizar.

 

E também isto é... surreal!

 

http://sm2.imgs.sapo.pt/mb/E/y/u/o/0ffu3CCJtyO111F5fCGk0tk_.jpg

publicado às 01:20

CGD: sinopse de uma novela

O caso Caixa Geral de Depósitos (CGD) tem que forçosamente ser contemplado desde longe. De perto, com o nariz colado ao plasma ou ao LCD, as notícias que se sucedem afogam-nos num enredo burlesco, de conteúdo pouco relevante, que nos afasta do essencial, não nos permitindo obter um entendimento claro sobre os acontecimentos. A sequência dos eventos impinge-nos uma opinião genérica de genuína repulsa por todos os intervenientes sem distinção. Na verdade, não conseguimos distinguir este, daquele ou daqueloutro e a todos condenamos segundo os mesmos genéricos princípios e isso é, na realidade, não condenar ninguém, é deixar tudo na mesma.

 

Se dermos uns passos atrás, todavia, o caso CGD reveste-se todo ele de um simbolismo sinistro relativamente a um retrato mais apurado da sociedade em que vivemos, daquilo que coletivamente somos, como que um diagnóstico cabal do estado doente em que nos encontramos.

 

Damos, portanto, dois passos atrás sobre a sucessão dos episódios da novela para produzirmos um melhor entendimento.

 

Vamos ao princípio: o caso começa com o anterior governo, o qual se empenhou em liquidar o banco público. PSD e CDS tudo fizeram em termos de influência em gestão danosa para depauperar a Caixa — em tempo oportuno, alertei para este facto — num misto de ações injustificáveis de suporte à banca privada e a outros intervenientes do setor. O objetivo era claro: deixar a Caixa num tal lastimável estado que não pudesse subsistir hipótese alguma para além de a entregar de mão beijada nas mãos do capital privado. O objetivo da privatização da CGD era tão claro que o guião seguido pelo governo anterior foi precisamente o mesmo que foi aplicado a outras empresas entretanto privatizadas, das quais a transportadora aérea TAP é exemplo último.

 

Quando o atual executivo assume funções vê-se confrontado com esta situação de quase não retorno. Podemos especular que, acaso o governo não tivesse que responder perante os partidos que, à sua esquerda, o suportam parlamentarmente e para os quais a banca pública assume capital importância, talvez não tivesse sido tão enérgico e profícuo em resolver o imbróglio e, por esta altura, já a CGD não seria mais um banco público.

 

Foi neste contexto que o atual governo chamou António Domingues para desenhar um plano de recapitalização da CGD e recuperar o banco. António Domingues, vindo da banca privada — sempre esta relação suja de promiscuidade entre o estado e o setor privado —, exigiu — qual eleito pelos deuses —, contrapartidas muito curiosas para assumir funções, as quais incluíam um estatuto diferente dos demais gestores públicos que lhe permitisse, a si e à sua equipa, evitar uma declaração pública de rendimentos. Ao que tudo indica, o Ministro das Finanças terá concordado com tais exigências sob o pressuposto de conseguir aprovar no parlamento essa alteração à lei, facto que não veio a suceder.

 

Neste ponto, observe-se a moralidade decadente dos intervenientes, ainda que agindo dentro das fronteiras da lei.

 

Todavia, PSD e CDS, os mesmos partidos responsáveis pelo criminoso processo que conduziu a este lamentável estado contemporâneo da banca pública, têm alimentado uma ordinária ofensiva ao Ministro das Finanças com base numa interpretação de que este terá mentido numa comissão de inquérito. O festival protagonizado inclui a falta de respeito ao parlamento e ao Presidente da Assembleia da República, segunda figura do Estado, o obstar aos trabalhos da comissão de inquérito e a inusitada demissão do presidente da referida comissão.

 

Observe-se — palavra que isto nunca me deixa de espantar — o tempo de antena, a voz, que é dada pela comunicação social tanto a PSD como a CDS em todo este processo. É o mesmo que uma igreja fazer de um criminoso o seu novo pastor para pregar moralidade aos demais.

 

Ao mesmo tempo, António Domingues vai fornecendo informações avulsas sobre as comunicações que terá trocado com o Ministro das Finanças. Por que razão não as forneceu à comissão de inquérito em que foi ouvido, ninguém percebe.

 

O que para mim resulta de mais extraordinário depois de tudo isto é o facto de que nenhuma estrutura do país parecer estar preocupada com o facto de António Domingues não querer revelar a extensão do seu património. Não há vivalma que se interesse por isso. O que será que os bens de Domingues poderão revelar? Que “benfeitores” estará Domingues a proteger? Que sórdidas relações com os poderes do mercado de capitais poderão ser reveladas com a sua declaração de bens?

 

Uma coisa é certa: se acaso se tratasse de um cidadão comum a exibir um padrão comportamental deste tipo seguramente que a sua vida estaria já completamente escalpelizada na praça pública.

publicado às 21:03

CGD: uma pergunta

Aos excelentíssimos administradores da Caixa Geral de Depósitos:

 

Todos nós sabemos que cada um de vós possui uma capacidade intelectual absolutamente extraordinária, capaz das mais aguçadas e perspicazes análises e previsões económicas.

 

Todos nós sabemos que cada um de vós é um cidadão ímpar, um raro espécime dentro e fora do contexto do que a Ocidental Praia Lusitana consegue produzir.

 

Todos nós sabemos que o que o País vos retribui não é mais que uma gota no oceano de serviços vitais que Vossas Excelências prestam e, sem os quais, o País parava, o País deixava de respirar e todos nós ficaríamos à deriva, sem saber o que fazer às nossas vidas.

 

Por tão bem saber tudo isto, gostava de vos perguntar:

 

Porque é que a CGD, tão necessitada que está de se capitalizar, oferece taxas de juro ao dinheiro que recebe dos seus clientes de míseros 0,1 pontos percentuais ou menos (refiro-me às opções que não envolvem jogo em ações)? Não seria interessante para a CGD oferecer algo um bocadinho menos indecente de modo a atrair as poupanças dos portugueses?

 

Às sumidades que gerem a CGD, peço desde já desculpas por esta pergunta que apenas é fruto da minha mais que óbvia ignorância na matéria.

publicado às 13:10

A trágica simbologia da escolha de Macedo

A escolha de Paulo Macedo para a gestão da Caixa Geral de Depósitos é como que a última cena desta fantochada de governo. Não é que Paulo Macedo seja de uma estirpe diferente da de António Domingues. Não. Vêm os dois do mesmo lugar. São feitos da mesma matéria ideológica. A figura de Paulo Macedo é, todavia, tragicamente simbólica. É que Paulo Macedo foi um dos rostos do governo anterior e, agora, aparece como que vindo em auxílio de António Costa, como uma figura surpreendentemente consensual pela sua superior competência.

 

https://static.noticiasaominuto.com/stockimages/1370x587/naom_5457f1ba85162.jpg

 

Abro aqui um parênteses para sublinhar este ponto. Há gente neste país que parece deter um certo tipo de competências, de natureza mística, talvez, que lhes permite atuar superiormente em toda e qualquer área da sociedade, seja ela qual for. É curioso e, na minha opinião, revelador do provincianismo e da ignorância que medram por entre o povo, o povo que a tudo isto assiste abanando, ora positivamente, ora negativamente, com a cabeça. É este precisamente o caso de Paulo Macedo que tanto atua na banca, como na saúde, como no mundo empresarial em geral, com índices de aceitação e de sucesso espantosos. Serve este exemplo, como outros, para construir uma certa imagética de liderança, uma certa personalidade de líder, que qualquer um que governe deva assumir, porque para bem governar há apenas uma receita que é a anterior e mais nenhuma.

 

É simbólico, portanto, sinistramente simbólico, como um dos mais emblemáticos ministros do anterior governo, do governo da austeridade — e Macedo soube aplicar muito bem a sua dose de austeridade pelos hospitais e centros de saúde de Portugal, como bem mandado servil desse governo que foi — seja agora o bombeiro de serviço deste novo governo, autoproclamado de anti-austeridade, no que diz respeito à questão que presentemente a todos preocupa da Caixa Geral de Depósitos.

 

Deixo aqui a seguinte interrogação: quem será o próximo bombeiro de António Costa? Vítor Gaspar? Acho que era de dar uma nova oportunidade ao homem, ele que até já reconheceu que falhou com a austeridade e com o “enorme aumento de impostos”.

publicado às 14:35

Uma espécie de úbere

Antes de nos debruçarmos sobre as recentes revelações em torno dos mais de dois mil milhões de crédito mal parado da Caixa Geral de Depósitos (CGD), será, por ventura, mais interessante olhar para montante em direção aos propósitos do banco público português. Será aí, na sua razão de ser, nos seus desígnios, nos seus objetivos, que encontraremos todas as respostas para as interrogações que, por ora, nos assolam.

 

Importa, portanto, perguntar: para que serve a CGD? É mais fácil dizer para que não serve: não serve para conceder crédito às famílias ou às empresas; não serve, portanto, para incentivar a procura interna ou para fomentar a economia; também não serve para incentivar a poupança dos portugueses. Para que servirá a CGD, então? Podemos mesmo ir mais longe: para que nos serve dispormos de um banco público, se este claramente não satisfaz nenhuma das essenciais prerrogativas elencadas neste parágrafo?

 

Olhando para um passado não muito longínquo, não é muito difícil detetar o verdadeiro desígnio da CGD: servir como plataforma legal para o Estado poder intervir em favor da banca. A CGD não é, com efeito, nada mais que uma almofada paga e sustentada pelo povo para aparar todas as quedas da burguesia banqueira, fruto da sua imponderada atividade especulativa ou gestão gananciosa. Quando a banca está em dificuldades para se capitalizar porque investiu como louca no imobiliário, ou por outra razão qualquer, aí está o Estado, por intermédio da CGD, a sustentar fundos de recapitalização. Quando o Estado quer injetar dinheiro nalgum banco em risco de falência, não o faz diretamente, usa a CGD.

 

É sobre este ponto de vista, e apenas sobre este, que devemos analisar a recente notícia dos dois mil e trezentos milhões de euros de crédito duvidosamente concedido pela CGD que está em risco de ser recuperado. O caso configura-se, portanto, para lá de uma mera gestão danosa da coisa pública. Antes, trata-se do corolário natural da função com que se concebeu a Caixa Geral de Depósitos durante as últimas décadas.

 

A existência de um banco público afigura-se fundamental para qualquer país soberano que não esteja complemente manietado pelos interesses do capital. É fundamental como ferramenta de intervenção económica. O que o banco público faz hoje em dia é outra coisa: é uma espécie de úbere do dinheiro estatal, ao qual a burguesia acode em caso de necessidade.

publicado às 22:09

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