1 de outubro de 2017: cai a máscara da democracia espanhola
Fico sempre muito triste, muito chocado, ao ver a polícia a investir sobre multidões perfeitamente pacíficas. O que se passou na Catalunha, durante a manhã de hoje, o que se continua a passar ainda, é chocante.
Por um lado, a polícia mostra que mais não é que um conjunto de animais treinados, seres acéfalos amestrados, capazes de exercer violência gratuita por razões meramente tecnocráticas, de erguer e agitar bastões sobre cidadãos indefesos, seres incapazes de empatia, solidariedade ou compaixão para quem luta sem armas e sem vestígio de violência.
Por outro lado, enfatiza-se nestas ocasiões o papel real que a polícia e as forças de segurança têm, com efeito, nas sociedades contemporâneas: servem apenas para proteger o poder e os poderosos das massas e não para estabelecer qualquer noção, por ténue que seja, de justiça ou de paz.
O que se passa na Catalunha é absolutamente chocante. Mostra como são falsas estas democracias de papel, como são erigidas sobre alicerces débeis, de circunstância e de hipocrisia. Em Espanha, como na Europa e no resto do mundo, a democracia que tanto se apregoa serve, afinal, até ao momento que deixa de servir. Quando a democracia ameaça os poderes instalados, num ápice põe-se em suspenso, num ápice esmagam-se as vozes que se erguem, num ápice esvaziam-se os conceitos ocos que outrora serviam para defender o regime.
Como são débeis estes conceitos que nos vendem à boca cheia! Liberdade, democracia... Como são débeis...
O dia de hoje, 1 de outubro de 2017, fica marcado como o dia em que cai a máscara da democracia espanhola. Não deixa de ser irónico, todavia, que a monarquia espanhola tenha sido sempre tão vocal e veemente a apontar o dedo à Venezuela num passado recente: um país que não permite um simples referendo chama de ditadura um país que se desmultiplica em eleições e consultas populares. Onde estão essas vozes, tanto lá como cá, agora?