É verdade: Jesus tinha dois pais
O cartaz do Bloco de Esquerda, “Jesus também tinha 2 pais” é realmente excelente. No bom estilo Pop Art de Warhol, defende a adoção por casais do mesmo sexo ao mesmo tempo que critica com mordaz ironia o dogma religioso. É assim uma espécie de dois em um. A crítica atinge o mundo católico em pleno no âmago das suas contradições, sendo que a Igreja nem por isso se coíbe de se constituir como principal opositora a uma tal mudança de costumes. É verdade: segundo a letra da sua própria doutrina, Jesus tinha dois pais.
O Bloco de Esquerda está de parabéns. Devo reconhecer que o que lhe falta em consistência ideológica abunda em imaginação e criatividade.
Claro que, entretanto, devido à chuva de críticas que tem caído sobre o Bloco, elementos do mesmo, incluindo Marisa Matias, já vieram dizer que “foi um erro” e coisas do género. Se me faltassem evidências para sustentar a afirmação sobre a inconsistência ideológica do Bloco que fiz no parágrafo anterior, o Bloco encarregou-se de me providenciar uma bem fresquinha.
Isto faz-me lembrar quando o Bloco decidiu não participar das negociações de 2011 com a Troika para depois se mostrar muito arrependido em face dos resultados eleitorais obtidos. O Bloco de Esquerda parece que tudo o que faz é em nome dos resultados e dos efeitos e não em nome das suas convicções. Parece que, no Bloco, a mão que lança cada pedra política está sempre a postos para se esconder, numa tentativa frívola de emenda, se acaso a pedra chatear muita gente.
O tratamento que a sociedade faz, em geral, relativamente a este género de intervenção e crítica social também é de relevar. É que, formalmente, comportamo-nos exatamente do mesmo modo que todas as sociedades islâmicas mais ortodoxas que tão veementemente criticamos e até desprezamos. Não rebentamos bombas, até ver, mas somos tão radicais no que dizemos e no que pensamos e temos tão péssimo sentido de humor, ou até pior, do que qualquer radical de qualquer religião. Mas é sempre mais fácil criticar nos outros o que não conseguimos reconhecer em nós próprios.