Sem esquerda verdadeira, resta a direita, PS incluído
Catarina Martins bem pede a António Costa, “Vá lá, Sr. Primeiro-ministro”, só para ouvir “Não pode ser, Sra. deputada”. Jerónimo de Sousa confessa-se muito desiludido com as propostas do governo, “Não se pode dar um passo maior que a perna”, diz Costa, e Jerónimo quase que chora. E toda esta charada prossegue a cada sessão parlamentar.
Bloco de Esquerda e, sobretudo, Partido Comunista Português mostram-se disfarçadamente envergonhados, como dois partidos emasculados ideologicamente. É a venda do Novo Banco, é o processo de recapitalização da CGD, é o sucumbir na questão das SWAPS com o Banco Santander, é a obsessão com os défices e as metas artificiais europeias — únicos objetivos governativos —, é a ausência de nenhuma transformação efetiva na sociedade, é o contribuir para uma solução governativa indubitavelmente preponente do caminho da direita para as sociedades e para os povos.
António Costa ainda se dá ao descaramento de vir dizer que quer repetir os acordos na próxima legislatura, ainda que venha a conseguir maioria absoluta. Pois como não quererá ele isso?! Tivesse tido Costa maioria absoluta e PCP e Bloco nunca votariam a favor destes orçamentos de estado e destas soluções para a banca e para a economia. E esta realidade apenas concorre para o enxovalho a que estes partidos estão visivelmente votados e ao qual o eleitorado — já avisei por mais que uma vez — não é alheio.
É preciso dizê-lo e nunca é demais repeti-lo. Este governo é idêntico ao governo anterior: tem um estilo diferente, mas a sua proposta para o país é a mesma, o seu modelo é o mesmo, a sua ideologia é a mesma.
Agora, PCP e Bloco de Esquerda preparam-se para se agarrar à questão europeia como desculpa esfarrapada para o que não foi feito. O Bloco de Esquerda, particularmente, até já inverteu o que vinha dizendo sobre a Europa, propondo já a saída do Euro, como se isso se tivesse tornado numa evidência agora e já não o fosse antes. A isto se chama um partido invertebrado ideologicamente, alterando de rumo de acordo com os ventos como se de um barco à vela se tratasse.
O futuro avizinha-se tenebroso. Sem esquerda verdadeira, resta a direita, PS incluído, para prosseguir a destruição ou, quanto muito, o adiamento do país que poderíamos ser.