Recheio de notícia
Os jornalistas que escrevem e que debitam as reportagens que passam a viva voz na televisão ou que se marcam a tinta negra indelével no papel sujo dos jornais afirmam sem pudor, como se de uma trivial conclusão se tratasse, após o debate entre Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, que entre ambos não existem diferenças substantivas. Curiosamente, estes são os mesmos jornalistas que são lestos em descortinar diferenças entre António Costa e Passos Coelho.
O jornalismo está reduzido a esta forma de fazer notícia em que o relato dos factos é permanentemente injetado com um recheio opinativo de preconceito, recheio esse confecionado no dia anterior, à noite. Escolha-se o jornal que se quiser ou o noticiário televisivo que se entender.
Se formos capazes de entender o processo, então também seremos capazes de perceber por que razão certos jornalistas assumem posições de destaque nos meios de comunicação quando resulta óbvio não possuírem as condições mínimas para o cargo. Nos dias que correm vemos jornalistas que, não obstante os mais avançados corretores ortográficos, cometem os maiores atentados à língua de Camões, vemos outros com problemas evidentes, mecânicos, de dicção e de oralidade, e vemos ainda outros com postura imprópria e desadequada em face da câmara, por exemplo, moderadores de debate que passam grande parte do mesmo com dois dedos da mão direita entre o lábio inferior e a cova do queixo, numa postura que não fica bem, que não é própria.
Tudo isto resulta muito estranho quando nos apanha desprevenidos. Quando existe tanta gente capaz, tanta juventude a ser excelentemente formada todos os anos nas faculdades públicas portuguesas, por que razão detetamos tantos casos destes?
Tudo isto se torna mais compreensível assim que percebemos que a razão de ser dos cargos não está tanto na forma e na ética profissional do mesmo, mas mais noutras coisas que se situam a jusante, nas opiniões que se semeiam ou na qualidade das questões combinadas.