Posse
Existe um deus único que governa sobre todos os mortais. Um deus de muitos nomes, escritos em todas as línguas e dialetos falados no mundo. No ocidente chamam-lhe Deus, simplesmente. Dizem que é omnipresente, omnisciente e omnipotente. Tudo vê, a tudo assiste, tudo conhece, tudo sabe e tudo pode. As pessoas, por toda a parte, acorrem a templos para o venerar e para cair nas suas boas graças. Para pedir. Um favor para si e para os seus, a proteção do que é seu. Precisam da intervenção dele para isso. E se forem atendidas nas suas preces nada mais importa. Continuam a pedir. Ainda que ao lado, justamente ao lado, iguais pedidos não sejam igualmente atendidos, é irrelevante. O que releva é o próprio. É a noção de que nós sim! Nós é que somos especiais aos olhos dele. A relação que estabelecemos com deus diz muito sobre a relação que estabelecemos connosco mesmos, com os que nos rodeiam e nos são semelhantes enquanto membros da espécie. A semelhança termina, contudo, aí, aos nossos olhos. Pois cada um de nós se entende mais especial e mais digno do que qualquer outro que imediatamente se nos segue. Não fosse deus uma cínica construção à nossa imagem. E, portanto, o deus do Homem tem implicações diretas e concretas em muitas outras dimensões: a sociedade do Homem, a democracia do Homem, o caminho do Homem, a liberdade do Homem. Falta apenas dizer ao Homem que o seu deus tem um nome pelo qual deve ser conhecido. Posse.