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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

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O “projeto europeu”

Assinatura do chamado Plano de Schuman, em 1951, que viria a dar origem ao estabelecimento da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço

 

É muito fácil detetar quando alguém fala do que não sabe ou do que desconhece: começa a empregar bordões ou estribilhos, os quais faz questão de repetir com uma insistência enjoativa como refrão de uma musiquinha que se canta a capella. É o caso do chavão “projeto europeu” ou “solidariedade” quando a conversa é Europa ou União Europeia. «Mas o que é isso de “projeto europeu”», perguntamos. «Ah, é um projeto solidário e tal...». E é exatamente aí que percebemos, sem margem para dúvidas, que o interlocutor nada sabe sobre o que discursa e limita-se a repetir o que ouviu em algum lado.

 

Vamos diretos ao assunto. A ideia subjacente à criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, que posteriormente originou a Comunidade Económica Europeia e, finalmente, a União Europeia, era uma ideia de cooperação económica. No penoso período após a segunda grande guerra aqueles seis países fundadores, Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, procuraram deste modo revitalizar e reconstruir o seu poderio económico, primeiramente através de uma política comum no que concerne à produção e exploração das matérias primas necessárias à siderurgia. Neste projeto havia também a ideia de que, sendo a produção siderúrgica não mais independente entre estes seis países, o perigo de uma nova guerra seria evitado. Neste ponto, note-se que cooperação não é sinónimo de solidariedade. Estes seis países estabeleceram um protocolo de cooperação para recuperarem mais rapidamente dos efeitos devastadores que a segunda grande guerra plasmou no seu solo com a esperança de que esse projeto cooperativo estabelecesse um clima de paz, por intermédio de um controlo das produções siderúrgicas de cada país participante. Ninguém partilhava nada com ninguém. Apenas havia uma facilitação do intercâmbio de materiais entre estes países.

 

Quando esta pequena comunidade começou a dar frutos, rapidamente se percebeu que esta plataforma poderia ser alargada a todas as outras áreas de exploração económica e, mais, que constituía uma eficaz ferramenta de controlo político dos estados. Tudo isto é e foi perfeitamente natural. O alargamento a outros estados fez-se rapidamente e, em pouco mais de cinquenta anos, a união atinge já vinte e oito estados membros. Acontece que, num contexto de tão díspares diferenças de força, toda e qualquer cooperação se torna numa subordinação.

 

Os estados eram cativados e subornados, porque não dizê-lo, num processo de sedução envolvendo grandes somas de dinheiro a troco de uma total subordinação da sua política aos diktats daquilo a que se convencionou chamar o eixo franco-alemão e que, nos dias de hoje, é apenas alemão. É, com efeito, interessante verificar a evolução da coisa e ver a orgulhosa França tornada, também ela, num estado-lacaio da Alemanha. Por diktats entendemos uma política de exploração de recursos, de importação/exportação e, também, social, canalizada para o favorecimento da economia alemã, isto é, que permita à Alemanha produzir ao máximo, exportar ao máximo e alocar toda a sua indústria com os custos de produção mais baixos nas economias marginais. Neste sentido, falar em “convergência” entre estados é apenas mais um mito facilmente desmascarado. Se países como Portugal não conseguem produzir ou exportar devido, sobretudo, a estes condicionalismos, isso não é um problema da União: o problema da União é tudo fazer pelo bem-estar da Alemanha, por tornar na Alemanha neste super-estado que só é super e alto por se erguer sobre as costas dos pequenos países. Falar em solidariedade neste contexto roça, portanto, o obsceno.

 

Quando se fala em solidariedade apontando rapidamente à evidência dos subsídios dados aos estados, muitas vezes enunciados em nome da “convergência”, devia-se falar antes em armadilha, armadilha essa de que o Euro foi a última componente. Cada subsídio teve o objetivo de retirar um direito, uma estrutura, um princípio autonómico, uma ferramenta económica a cada estado e, visto sob esta perspetiva, foram comprados a preço de saldo. E com o Euro o verdadeiro “projeto europeu” foi completado: uma europa totalmente dominada económica e politicamente à mercê de um país, a Alemanha, num plano de dominação global que faz parecer que os planos do terceiro reich de Hitler, ou os planos de Napoleão Bonaparte, para citar apenas estes dois, não foram mais do que criações de verdadeiros mentecaptos selvagens.

publicado às 10:13

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