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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

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O professor de história incapaz

Existe um indivíduo a quem chamam de Rui Tavares. Este indivíduo diz-se um historiador e diz-se de esquerda. Aqui seria importante acertarmos agulhas e chegarmos a um consenso sobre o que quer dizer “ser historiador” e o que quer dizer “ser de esquerda”. Sem tempo para tal relevante exercício, diz o historiador de esquerda Rui Tavares no seu novo livro, à semelhança do que já havia escrito em outros textos publicados num blog pessoal, que “não há superioridade moral [da esquerda sobre a direita] nem razões históricas” que justifiquem tal superioridade mítica ou mitificada da esquerda sobre a direita. No fundo, o historiador de esquerda Rui Tavares defende uma tese em que faz equivaler os movimentos de esquerda e de direita tanto em pecados como em virtudes.

 

Antes de prosseguir noto, sem qualquer fibra de surpresa, o facto de que Rui Tavares esteja a recolher uma intensa e flamejante admiração por parte dos comentadores de costume, da oratória de direita, dos peões do sistema vigente. Nada disso é motivo para estranhar.

 

Passando à análise do conteúdo da tese supra apresentada, impõe-se, por imperativo de memória e de história, que se refira o seguinte. A direita, e por direita entendemos as forças políticas conservadoras, nunca, em nenhum momento da história da humanidade, esteve do lado do progresso, do lado das evoluções sociais, do lado da redução do horário de trabalho, do salário mínimo, do direito a férias remuneradas, do direito à cultura, à liberdade religiosa, política, sexual, da igualdade de género, de raça, e a lista continua, interminável. Escolha-se o tema que se quiser. Desafio, aliás, Rui Tavares a apresentar um (apenas um) ponto onde a ação da direita tenha contribuído, por livre e espontânea manifestação ideológica, para o progresso do Homem, para o seu bem estar, no seio de alguma sociedade humana. Pelo contrário, do lado do progresso estiveram sempre os movimentos de esquerda: foi aí mesmo que nasceram, da luta de classes, pelo equilíbrio social e por uma melhor distribuição da riqueza.

 

Estranho que um historiador de esquerda desconheça o que acabei de referir. Estranho que desconheça o conceito de luta de classes já que nunca o profere. Esta estranheza ajuda a explicar, contudo, muita coisa que não se percebia. Ajuda a perceber um pouco o que está na base daquela plataforma/partido político/movimento de cidadãos a que chamam de livre/tempo de avançar, criação do próprio Rui Tavares.

 

Existe, portanto, uma superioridade moral da esquerda relativamente à direita. Claro que existe! Não se confundam erros pontuais ou de percurso com erros de genoma, com erros de valores e de ideologia. Não se coloquem farinhas muito distintas no mesmo saco só porque o pasteleiro é, eventualmente ou por consideração arbitrária, incapaz de fazer um bolo com uma ou com outra. Não é a mesma coisa.

 

Com isto percebemos que Rui Tavares não é duas coisas. Não é historiador ou não é um razoável historiador porque desconhece a história, porque ignora nomeadamente uma parte importante, a mais significativa, do século XX. Se, pelo contrário, não ignora a história e escolhe fazer tamanha interpretação parcial da mesma, então é um medíocre historiador. Mas, se das duas anteriores apenas uma poderá estar correta, uma coisa é garantida: Rui Tavares não é de esquerda.

 

Fica bem dizer este tipo de coisas. Fica bem procurar o politicamente correto por mais absurdo, por mais grotesco, que possa ser. Rui Tavares procura pescar apoios em todo o lado. Não quer muito compromisso com o que quer que seja. Quer ser um simpático para o cidadão médio português que não quer saber, em boa verdade, nem de esquerda nem de direita. As muletas do PS não costumam ter, todavia, muita sorte. Na verdade, costumam ter o ciclo de vida do tamanho do de uma libelinha. Nascem do meio da lama, esvoaçam e fazem uma dança nos céus e depois morrem, aterram tão depressa quanto levantaram voo. No entanto, temos que compreender: os incapazes não têm muita imaginação; só sabem repetir o que já viram feito em algum lado, em algum sítio. É uma mímica triste e enxovalhante.

publicado às 13:40

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