“O outro”
Existe esta ideia superlativa e absoluta que se inspira como um fumo difuso, quase transparente, em cada recanto da sociedade. É a ideia de que “o outro” é de fraca qualidade: seja por ser preguiçoso, seja por ser incapaz, seja por ser corruptível. Essa ideia é precisamente o suporte para a aceitação social das medidas de precarização do trabalho e das relações humanas em geral, estando presente na desconfiança geral que o cidadão médio tem relativamente à justiça e ao sistema penal.
O problema reside sempre “no outro”. Mas “o outro” é uma miragem, “o outro” não é mais do que um espelho do “eu”. Os defeitos que somos lestos em verificar “no outro” são pecados nossos e essa é a precisa razão que justifica a celeridade do diagnóstico anterior que fazemos ao “outro”. Do mesmo modo, é necessária genuína bondade, genuíno caráter e verticalidade para ver “nos outros” a bondade e a esperança na humanidade. Com efeito, “o outro” é o melhor espelho de nós.