O Natal como um reflexo
O Natal diz tanto sobre o que somos, tanto sobre o que pensamos, tanto sobre a nossa natureza... O Natal é uma quadra em que queremos acreditar que somos melhores do que o que somos; em que queremos acreditar que nos importamos com os que nos rodeiam, a família e os outros. Queremos mostrar que valorizamos aquilo que realmente parece nobre e importante.
Em muitos casos juntam-se à mesa pessoas que se ignoram durante o resto do ano. Dizem-se, ouvem-se, cantam-se versos que são frases que nos parecem ridículas se desenquadradas noutra estação do ano. E multiplicam-se as campanhas de caridade disfarçada de solidariedade por toda a parte, por toda a razão sensibilizante até às lágrimas do maior cínico. Quando, ao longo do ano, essas razões perdem toda a relevância que pareciam ter subjugando-se, com naturalidade, às leis de competição que presidem à sobrevivência do Homem.
Assim é. Aliás, assim tem sido.
O Natal apresenta-se, assim, como um par de semanas que funcionam como um oportuno escape a uma rotina cristalizada como normal e óbvia no resto do ano. As pessoas precisam disto. Lavam o caráter, esfregam os calos e as cicatrizes acumuladas ao longo do ano e preparam-se, de alma esfoliada, para outro ano de hábitos iguais.
O Natal é o reflexo óbvio da sociedade em que vivemos, das nossas convicções, das nossas opções. Se a sociedade fosse outra, o Natal poderia ser um dia qualquer, um dia como outro qualquer. Ou então, um valorado símbolo, e não oco, de um conjunto de valores que se considerassem importantes e estruturantes.