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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

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O cromo dourado do regime

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Este Paulo Núncio é um daqueles personagens que dá gosto ouvir falar. Hoje, na comissão de inquérito que decorre a propósito da pouca vergonha dos dez mil milhões de euros que se evadiram de Portugal sem dar cavaco às tropas, Paulo Núncio produziu um manancial de afirmações que deviam ser estudadas ao pormenor, pois são capazes de produzir um retrato fiel deste regime desavergonhado em que vivemos e ao qual chamamos de capitalismo.

 

Pois então, ao que parece, Paulo Núncio ensaiou aquele teatro todo de se demitir dos cargos afetos ao CDS por razão absolutamente nenhuma:

  1. Paulo Núncio nada fez de errado.
  2. Ninguém, aliás, fez nada de errado, quer no governo, quer na autoridade tributária.
  3. Mesmo que Paulo Núncio tivesse feito algo de errado, visto que se auto-intitula o “campeão do combate à evasão fiscal” (do peixinho pequenino, é certo), está automaticamente imune a qualquer crítica.
  4. A publicação da lista das transferências para offshores não tinha caráter obrigatório.
  5. Um estado “de tipo europeu” não deve acompanhar de perto as transferências que se fazem, mesmo as de montantes estratosféricos. O contrário apenas é feito na Venezuela.
  6. O dinheiro transferido nada tinha que pagar de imposto.
  7. Como advogado, trabalhou para diversas empresas que lidam diariamente com offshores mas nunca trabalhou diretamente na área dos offshores.

 

A lista continua. A partir deste momento, começa a deixar de ser divertido e começa a enojar. Paulo Núncio, houvesse uma caderneta de políticos serventuários dos interesses do capital privado, ocuparia um lugar de destaque, seria um daqueles raros cromos dourados. O seu discurso preparado de véspera é simbólico. O seu discurso é paradigmático no seio do regime. O escândalo aconteceu e é visível para todos mas, no entanto, ninguém fez nada de errado. As coisas aconteceram porque... é a vida! E, no fim do dia, Paulo Núncio ainda é credor de uma comenda pelos altos serviços prestados ao país.

 

Segundo Paulo Núncio, apenas na Venezuela se acompanha este tipo de transferências no momento. Não tenho como afiançar esta afirmação. O que posso dizer é que, tivesse este escândalo acontecido na China e Paulo Núncio não estaria a dar baile numa comissão de inquérito parlamentar, mas sim a enfrentar um pelotão de fuzilamento.

 

Se me perguntarem se concordo com a pena capital, digo que não, que não concordo, seja em que circunstância for. Mas se me perguntarem se teria pena ou se consideraria injusto, neste caso em particular, diria que não, também. Sem dúvida que não. Ninguém assume responsabilidade por nada neste país “de tipo europeu”. É desesperante se pensarmos um pouco nisso. É um escândalo em si mesmo.

publicado às 14:47

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