Nas entrelinhas da vitória
Felizmente o “não” venceu o referendo. Caso assim não tivesse sido, todo o movimento anti-imperialista teria sofrido uma derrota dramática. Por isso repito: felizmente o “não” venceu. A jogada política ousada e, diga-se, completamente demente do Syriza acabou por dar resultado. Mas não vale a pena insistir no que já passou. Vale a pena olhar para o caminho que falta calcorrear. Esse caminho, contudo, apresenta-se árduo e incerto.
Após a vitória no referendo, foi anunciada, qual murro no estômago, a demissão do ministro das finanças grego Yanis Varoufakis. A incredulidade pela decisão apenas se vê suplantada pela ainda mais espantosa justificação para o ato: Varoufakis tomou a decisão com base numa pressão exercida pelos parceiros negociais europeus.
Visto pelo prisma que se quiser, esta decisão é de todo em todo repugnante. Ingerência direta inter-nações soberanas, covardia política do próprio, cedência vergonhosa do Syriza aos interesses do capital, e mais, mais, muito mais. Escolha-se o que se quiser: qualquer opção terá tanto de repulsivo quanto de desilusão.
O Syriza parece ter uma prontidão desconcertante para fugir às responsabilidades que o seu povo lhe coloca. Da primeira vez que venceu as eleições, saiu de cena tão depressa quanto ascendeu ao poder. Agora parece estar à procura de um pretexto para saltar fora do barco, um pretexto que lhe permita sair de cena de mãos lavadas, mas de consciência suja. Para mal dos seus pecados, o povo grego mostra ser dono de uma coragem de ferro, de uma vontade de aço, e obriga o Syriza a continuar a lutar. O povo grego é, com efeito, a única e derradeira esperança da Grécia.