Matam a Caixa nos Paços do Governo! Acorrei à Caixa que a Matam!
Tomei de empréstimo uma citação da Crónica d'el-rei D. João I, o Mestre de Avis, Matam o Mestre nos Paços da Rainha! Acorrei ao Mestre que o Matam!, para começar este relato que me enche de tristeza e de preocupação pelo meu país.
O processo que está em curso, a todo o vapor, na Caixa Geral de Depósitos é de uma gravidade tremenda. Todavia, o país não parece perceber bem o que se está a passar.
Até ao final deste ano civil uma substancial parte dos clientes do banco público de Portugal mudar-se-ão para outros bancos. A razão é simples: as absurdas comissões que a Caixa vai começar a cobrar a partir de setembro a todos os clientes, mesmo àqueles que têm o seu salário domiciliado na Caixa.
Muitas pessoas já começaram a fechar as suas contas no banco público e este mês de agosto promete ser muito movimentado. As transferências para outros bancos onde tais comissões não são cobradas multiplicam-se. Contudo, é de esperar que uma maior percentagem, menos informada, tome essa decisão uma vez que comecem a ser cobradas as comissões mensais a partir de setembro.
Nos próximos tempos a Caixa Geral de Depósitos, outrora um banco forte e de confiança, converter-se-á num banco minimal, servindo apenas uma parte dos reformados, pronto a ser absorvido por um Santander qualquer e a desaparecer do mapa, cumprindo-se assim o ansiado desígnio da direita.
Não é irónico que o PS tenha sido o elegante carrasco da Caixa. Não é nada irónico. O PS está, como sempre esteve, ao serviço do grande capital e dos seus objetivos. O que é irónico é que o tenha feito com o apoio de Bloco de Esquerda e de Partido Comunista Português. Nem adianta invocar as diferenças que existem entre estes partidos. Se o PS — que até foi resgatar o cacique do outro governo, Paulo Macedo, para levar a cabo a empreitada — logrou cumprir o desmantelamento da Caixa Geral de Depósitos, fê-lo porque BE e PCP assim o permitiram. E acrescento ainda o seguinte: de pouco valerão as expectáveis manifestações populares organizadas por estes partidos para que a Caixa não feche. As roldanas já foram postas em movimento. O processo de raquitização do banco público é virtualmente irreversível.
Mas se algumas pessoas já começam a ver com clareza o que parece ser inevitável, a verdade é que poucos percebem a gravidade da situação. O estado português vai perder o seu banco público. O estado português vais perder a sua única ferramenta de intervenção na banca e uma das poucas que ainda tem para agir sobre a economia do país. Tal situação é impensável em qualquer país soberano. Absolutamente impensável! Mas é para aí mesmo que caminhamos, para um estado sem gota de soberania, um não-país, um lacaio declarado da Alemanha e do diretório de potências imperialistas mundiais onde o dinheiro e o poder se conserva e se multiplica.