Há mais receita fiscal, mas continuamos a pagar o mesmo
Mais um dia e mais uma excelente marca batida pela economia portuguesa: pela primeira vez em dez anos, o número de desempregados ficou abaixo dos quatrocentos mil (393 335, nos dados do IEFP), confirmando uma tendência de descida que vem desde o final da legislatura anterior e que, em certa medida, se tem acentuado. Esta tendência segue à boleia de uma conjuntura internacional de crescimento e de consumo e, muito concretamente, do setor do turismo que se encontra em franca e descontrolada expansão no nosso país. Será, pois, no exato momento em que estes dois fatores se inverterem — e esse momento chegará, acreditem, a história assim nos conta que a economia é feita de ciclos — que, então, se verá a verdadeira robustez da nossa economia assim como o material de que é feita. Até que esse momento chegue, todavia, prossegue a procissão com os maiores e mais brilhantes fogos de artifício feitos de bazófia das mais diversas cores.
É óbvio que não interessa aqui averiguar a qualidade dos empregos criados. Não. Isso não é para aqui chamado e até pode ter o condão de estragar a festa. Precariedade é palavra que já começa a ficar gasta nos ouvidos da população para a qual a palavra é representante do seu presente e anunciadora do seu amanhã. Não. Não falemos disto.
Falemos de uma outra coisa. É que — dei comigo a pensar na coisa desta forma que ainda não me tinha ocorrido! — tanta gente a trabalhar, tanta gente que não trabalhava e que agora trabalha — só desde o ano passado são quase cem mil! — é muita gente nova a descontar e a pagar impostos! Impostos que não eram pagos e que correspondem a uma eliminação de prestações sociais que o estado não precisa mais de pagar. Já repararam nisso? O que se faz a esse dinheiro? O que se faz?
Quer dizer, continuamos todos na mesma, como estávamos, a pagar os mesmos impostos que pagávamos? Como é isto?
É que estas marcas económicas que se atingem e que, per si, são louváveis, têm que ter consequências na vida de todos nós. No mínimo, devíamos exigir que a carga fiscal, que penosamente suportamos, diminuísse visivelmente. No entanto, continua tudo como dantes. E parece que o mundo todo neste nosso Portugal está muito contente.
Há mais receita fiscal, mas continuamos a pagar o mesmo.