Evidência da semana
Há um aspecto do comportamento dos portugueses que muito me desagrada. (...) Trata-se da tendência para ser subserviente face ao poder, ter muito respeitinho face aos poderosos, nalguns casos ter medo, e, depois de estes caírem do seu pedestal, ir lá a correr atirar a enésima pedra.
— José Pacheco Pereira, in Público, 19/12/2015
Todas as generalizações são injustas. Todas as generalizações são incorretas. Não olhemos para a citação acima como uma generalização, portanto. Salvaguardemos sempre o caso particular do caso geral. Antes, olhemos para a citação apresentada como um padrão comportamental obtido através de um processo de abstração, porque é exatamente isso mesmo que é: um padrão comportamental. E se existe alguma coisa de errado ou de impreciso no que foi escrito, é apenas a palavra “portugueses”. Não devia estar escrito “portugueses”, mas sim, “pessoas” ou, quanto muito, “pessoas do mundo ocidental”. E esta correção devia ser feita em razão da natureza superlativa deste padrão extraído especificamente da sociedade portuguesa, já que se estende por decalque a sensivelmente todas as pessoas das sociedades que se regem pela lei da selva a que chamamos de capitalismo. Podíamos ir, com efeito, mais longe ainda, já que relatos de comportamentos similares surgem plasmados em textos mais antigos, nomeadamente na Bíblia. Podíamos, mas não é preciso. José Pacheco Pereira escreveu-o a propósito do tratamento social dado a José Sócrates e tem toda a razão. Fez bem em destacar esta evidência comportamental que apenas nos desclassifica no plano intelectual e, mais importante, humano. Agora, para um domingo de manhã, creio que já chega de discorrer sobre o que é evidente.