Estudando a lógica dos magazines económicos
Acompanhar os magazines económicos de análise dos mercados é uma das minhas atividades favoritas. Ouvir os analistas/apresentadores discorrer sobre o que quer que seja é uma experiência que se encontra a meio caminho entre extrassensorial e o surrealista.
Quando os juros da dívida portuguesa aumentam, então é culpa das políticas do Estado. Quando esses mesmos juros diminuem, então é resultado das “políticas expansionistas” do Banco Central Europeu.
Quando o assunto é a Bolsa de Valores ou o PSI20 a “lógica” é semelhante. Se a Bolsa tem bons resultados, então isso é resultado de uma ou outra empresa cotada em bolsa impulsionada pelos outros mercados europeus. Se, pelo contrário, a Bolsa obtiver maus resultados, então isso dever-se-á, com certeza absoluta, ao clima de desconfiança gerado pelas medidas governativas.
Quem acompanha estes espaços, chamemos-lhe “informativos” só para facilitar, sabe do que estou a falar. Basta uma semana de visualizações, uma vez por dia, para saber que não existe sombra de incorreção ou de mentira nas palavras que escrevo.
Não existe um pingo de lógica ou de ética neste tipo de trabalho. Trata-se de condicionamento político puro e duro disfarçado de análise técnica. O facto de aceitarmos tais espaços da forma acrítica que aceitamos é um sintoma de uma doença que afeta transversalmente o estado, o país e a democracia. Essa doença é uma espécie de infeção generalizada que atinge cada membro e cada órgão do nosso país. Chama-se capitalismo. Estamos tão subordinados à vontade do poder económico que disso já nem detemos consciência.