Contratos de trabalho contemporâneos
“Naquela tarde fria de meados de setembro, quando saía da escola, a rapariga ouvira alguém chamar por si. A voz vinha do lado de lá do vidro que separava a secretaria do corredor central:
— Professora! Professora!
— Sim? — retorquiu a rapariga, num sobressalto.
— Esqueceu-se de picar o ponto antes de sair!
— Esqueci-me? — perguntou, não conseguindo conter um sorriso antes de acrescentar: — O meu novo contrato só começa para a semana.
A interpelação insistente foi substituída rapidamente por um género de interjeição que não traduzia desapontamento propriamente dito, mas antes o sentimento de quem acabara de rematar ao lado da baliza.
Do outro lado do corredor surgiu um sorriso. Era um professor jovem:
— Parece que estamos no mesmo barco: todos os anos começamos a meio de setembro e terminamos antes de agosto.
Parecia ainda não ter acabado de falar quando uma velha funcionária que fazia de contínua e tratava das limpezas o interrompeu:
— Não são apenas os senhores professores. Também nós terminamos antes de agosto...”