Contas certas
É preciso uma dose de leão em termos de descaramento para, depois de toda a história ultrapassada destes anos de governação, falar-se em “contas certas”. Mais: é preciso uma comunicação social conivente e incapaz de contrapor com uma pergunta que reflita minimamente a realidade das coisas. A realidade, por exemplo, da dívida galopante no que aos seus encargos diz respeito, das medidas extraordinárias para mascarar défices praticamente esgotadas, pois pouco sobra para privatizar e vender, um país delapidado do seu património humano que todos os dias, basta visitar os aeroportos portugueses, deixa o país para procurar uma vida melhor.
Tudo isto para operar uma mera reciclagem da nossa dívida. Nada mais. Devíamos a uns agiotas quaisquer, com os quais aliás teríamos possibilidade de negociar de uma forma mais vantajosa o cumprimento das nossas obrigações, e passámos a dever (mais) às mais altas instituições mundiais, submetendo-nos às suas condições altamente lesivas para o nosso tecido económico e que comprometem seriamente o futuro do país.
E o primeiro-ministro fala em “contas certas”. Não estamos melhor nem em um mero ponto percentual do que aquilo que estávamos aquando do início da crise, bem pelo contrário. Nem em termos de despesa, nem em termos de receita, de forma estrutural. Não estamos melhor em nenhum domínio. Quanto muito, por termos caído tão baixo, tão fundo, pelo facto do produto interno bruto, da população ativa, por exemplo, terem sido reduzidos a mínimos históricos, qualquer dado que surge é interpretado com otimismo boçal.