"Como não sou mulher, não me preocupa"
A entrevista que saiu hoje no Público a Rui Moreira é muito boa. Aliás, aproveito para saudar os jornalistas envolvidos, Manuel Carvalho e David Dinis, dois nomes que já critiquei neste blog, pela qualidade das perguntas endereçadas a Rui Moreira. Outras ficaram, seguramente, por fazer, mas algumas das que foram feitas foram de natureza absolutamente preciosa. Refiro-me particularmente à parte relativa ao escandaloso caso Selminho.
Por que afirmo isto? Porque tiveram o condão de desvendar a natureza do caráter de Rui Moreira para qualquer leitor minimamente atento. A entrevista merece ser lida com atenção para se poder perceber bem alguns dos meandros deste caso. Destaco, contudo, os seguintes trechos.
Público: Há três nomeados para esse Tribunal Arbitral. De um lado está a Câmara a que Rui Moreira preside, do outro lado está a empresa de que Rui Moreira é accionista e há um terceiro elemento estabelecido por comum acordo entre a Câmara a que Rui Moreira preside e a empresa da qual Rui Moreira é accionista. Não é, politicamente falando, uma formulação que o expõe a qualquer acordo que saia desse tribunal?
Rui Moreira: Não, como não intervenho no processo, não serei eu… (...)
Note-se como se fazem as vigarices neste país. Como é possível que se possa resolver um diferendo desta natureza desta forma?! Como pode um tribunal autorizar uma tal solução?! Como é possível que Rui Moreira não sinta um pingo vergonha ou embaraço por esta situação?!
Público: (...) Não receia que o princípio da mulher de César lhe dificulte a campanha?
Rui Moreira: Como não sou mulher, não me preocupa. (...)
A resposta continua, é certo, mas esta primeira frase atesta a arrogância do personagem. Como não é mulher, não o preocupa. Porque no seu entender o dito popular apenas é aplicável ao outro género.
Fico-me por aqui. O povo escolhe os seus representantes conforme bem entende. Normalmente, escolhe-os à sua imagem e semelhança. Não tenho dúvidas de que Rui Moreira vencerá as próximas autárquicas, facto que lamento profundamente por antecipação. É que não me sinto bem por saber que uma autarquia, ainda que não a minha, tenha um indivíduo desta estirpe de caráter na sua presidência.
O caso Selminho não é grave, porque o caso Selminho é evidente, não dá para esconder. Graves serão todos os outros casos tratados de modo semelhante, todos os casos de promiscuidade sórdida entre o poder local e os interesses económicos privados — de alguns já vamos ouvindo notas soltas aqui e ali —, casos de que teremos conhecimento, seguramente, quando Rui Moreira estiver já longe do Porto, talvez nalgum governo do país.