Brexit, Portexit e Eurexit
Aos vinte e três do presente mês o Reino Unido submeterá a referendo a sua permanência na União Europeia sendo que o sim à saída do país da União segue na frente das sondagens até ao momento realizadas. O referendo é o corolário de uma promessa do Primeiro-ministro britânico David Cameron ao seu povo mas é mais do que isso: a ameaça de saída do Reino Unido da União Europeia — o chamado Brexit — é uma forma de pressão sobre o diretório de potências continentais europeias da moeda única para reclamar mais autonomia e alargados poderes ao Reino Unido no contexto da União.
A questão do Brexit devia ser tratada na nossa sociedade com afincado detalhe, com obcecada minúcia, dada a sua acentuada pertinência. A questão — Por que razão o Reino Unido equaciona sair da União Europeia quando nem sequer faz parte da moeda única e quando é dos poucos países da União em franca prosperidade? — devia ser, pelo menos, levantada, colocada no ar, para que sobre ela fosse possível refletir seriamente.
Tão pouco a questão não é levantada, como nada se discute sobre o assunto. Nenhuma questão se coloca sobre a nossa própria posição enquanto país, sobre a nossa situação de estagnação ou contração económica ou sobre a nossa perda transversal e desmedida de autonomia ao longo do tempo de permanência na União Europeia. Mesmo ao nosso lado, acima, melhor dizendo, vemos os nossos vizinhos a discutir um assunto que nos atinge também e a nossa reação é fingir que nada se passa.
Chega a ser arrepiante constatar o sentimento de pensamento único que envolve Portugal no que à União Europeia diz respeito. Em boa verdade, tal não é assim tão admirável se pensarmos que, de todos os partidos com assento parlamentar, apenas um defende abertamente a saída do Euro e coloca reservas à continuidade na União Europeia — o PCP. Todos os outros partidos preferem fazer uma apologia perfeitamente idealista e utópica de uma certa ideia do que a União Europeia devia de ser, mas não é, nem nunca foi. Já uma vez escrevi sobre o assunto. Eles chamam a essa União Europeia a União Europeia “dos fundadores” mas estou convencido que não fazem ideia do que falam, nem a quem se referem.
Também neste assunto particular, torna-se muito claro como a chamada “opinião pública” é tão pouco permeável a vozes dissonantes que sejam capazes de introduzir uma visão diferente das coisas. Os meios de comunicação são, na prática, instrumentos totalmente vedados a qualquer voz que não siga a matriz de opiniões canónicas previamente escolhidas para serem difundidas.
O Brexit, contudo, vem aí. Seria melhor que fossemos capazes de o perceber bem, já que poderíamos lucrar muito com ele ou com algum dos seus primos diretos: o Portexit ou, pelo menos e mais importante, o Eurexit.