Até fazer ferida
Ontem dei-me conta de que o estado anda a pagar principescamente a um tal de Sérgio Monteiro — trinta mil euros brutos por mês — para que este venda o Novo Banco. É verdade: é esta a única missão de Sérgio Monteiro enquanto assalariado do governo português.
A produtividade de Sérgio Monteiro tem sido, todavia, miserável: em mais de um ano de atividade, catorze meses a auferir trinta mil euros, mais de quatrocentos mil euros depois — para ser mais preciso —, Sérgio Monteiro não só não logrou cumprir a sua única missão, como as propostas que angaria são cada vez mais insatisfatórias. Dizia José de Pina no Irritações, e com toda a argúcia, que pelo andar da carruagem Sérgio Monteiro poderá comprar a breve trecho, ele próprio, o Novo Banco com o dinheiro que o Estado lhe está a pagar. Irónico? Repugnante?
A este respeito, duas notas breves.
A primeira é, uma vez mais, a simbologia repulsiva da coisa. O Estado emprega e paga a uma figura de proa da austeridade e do executivo anterior, um indivíduo responsável pelo vilipendiar da coisa pública, do dar ao desbarato de empresas como a REN, a EDP, os CTT ou a TAP. Até parece, tal como no caso de Paulo Macedo, que não existe mais ninguém capaz de levar a cabo a tarefa. Mas não é verdade. A verdade é que este governo é farinha do mesmíssimo saco que o anterior. Deixemo-nos de coisas, portanto.
A segunda nota é a seguinte. As pessoas que tanto gostam de apregoar a equiparação do público ao privado, mesmo quando o que é público não tem termo de comparação no setor privado, deviam defender para Sérgio Monteiro um estatuto precisamente igual aos vendedores de imóveis do setor privado, como os da RE/MAX ou da ERA, que apenas ganham as comissões daquilo que vendem. Também aqui se vê a falta de coerência, particularmente dos setores mais à direita. Quando estão em questão trabalhadores comuns, a opinião é uma. Quando estão em causa gestores de topo, o referencial é outro. Neste último caso, a lei é chupar a teta estatal até fazer ferida.