Asco figadal
Escrevo estas linhas imbuído de um sentimento de profundo nojo, não de luto, mas de figadal asco e repulsa.
Depois do espetáculo verdadeiramente lamentável da tomada de posse, um espetáculo próprio de um estado monárquico, despótico ou plutocrático, o Presidente veio ao Porto repetir a encenação, ladeado do pretensioso Presidente da Câmara.
Assinale-se que o povo do Porto conseguiu superar largamente a capital, dias antes, comparecendo em massa, aplaudindo e gritando. Não foi uma montagem: o repórter da televisão foi por ali fora, entrevistou-os um a um, aos indivíduos que pavimentavam as ruas, e todos repetiam os mesmos desvarios, o mais chocante dos quais, “(...) é o Professor Marcelo e o Papa Francisco!”. Que povo mais revoltante! Que povo mais nojento!
O Vinte e Cinco de Abril, o de 74, era mesmo utópico! Mesmo! Estas ocorrências provam-no cabalmente! O que o povo quer é paizinhos a governar. O que o povo quer é bater palminhas! Qual democracia, qual quê!? Pois a democracia é cada um de nós, em igualdade, sem castas ou classes. Não é isto. Isto não! Isto é nojento.
Quase ao mesmo nível do exposto vem a conversa bairrista pacóvia contra a capital cristalizada na boca de cada um dos portuenses e corporizada no discurso deste adorado Presidente da Câmara: “(...) Portugal não é só Lisboa, Portugal é o Alentejo e Trás-os-Montes e o Porto...”. Que pobreza de discurso! Que discurso patético! Que mediocridade!
O povo português parece retroceder assustadoramente. São os valores, são as ideias e os ideais. É a ignorância. Parece — escrevi bem —, porque na realidade este povo nunca evoluiu coisa nenhuma. A comprová-lo estão as suas escolhas democráticas: acabaram de eleger, levando-o em braços, uma personalidade sinistra e retrógrada, de cara sorridente e que carrega consigo na bagagem memórias e património do antigo regime. Aplaudem-no agora. “O senhor professor Marcelo é muito simpático! Gostava muito de o ouvir. Sou fã!”.