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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

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As responsabilidades do vinte e cinco de abril

Neste dia vinte e cinco de abril que passou ouvi muitas pessoas dizerem que a revolução dos cravos não foi bem sucedida, que não temos um país melhor e que, por isso, a celebração do dia resulta falsa, pois o insucesso não deve ser celebrado.

 

Oponho-me vigorosamente a esta linha de pensamento, não obstante compreenda algum do sustentáculo argumentativo. Oponho-me fundamentalmente porque o vinte e cinco de abril de mil novecentos e setenta e quatro fez, e foi muito bem sucedido, em precisamente aquilo a que se propunha fazer, a saber:

 

  1. Reestabeleceu a República parlamentar multipartidária e plural, baseada em regras democráticas bastante equitativas.

 

  1. Implementou um sistema de iguais direitos para todos os cidadãos independentemente do sexo, religião, crença política ou religiosa, ou qualquer outra característica potencialmente diferenciadora.

 

  1. Aplicou todos os recursos para retirar o país da ignorância abjeta em que havia sido mergulhado e deu um forte impulso para tal.

 

  1. Criou o sistema nacional de saúde e de pensões para garantir um apoio, na saúde e na velhice, a cada cidadão.

 

  1. Iniciou uma reforma agrária e uma política de distribuição de riqueza mais equilibrada, através de medidas concretas como o aumento do salário mínimo, a redução do horário de trabalho, a criação do décimo terceiro e do décimo quarto mês, entre muitos, muitos outros direitos que hoje, curiosamente, estão a ser retirados um a um.

 

  1. Construiu, enfim, um conjunto de leis base, a Constituição da República, ainda hoje uma das mais avançadas no mundo, que englobou tudo o que acima foi dito e que apontou um caminho de igualdade, solidariedade e de fraternidade, em todos os aspetos da sociedade.

 

O vinte e cinco de abril fez tudo isto e, eventualmente, mais qualquer coisa de que agora não me recordo. Fez muito. Deu de mão beijada ao povo português a possibilidade deste escolher os seus representantes. Por conseguinte, não se assaquem quaisquer responsabilidades ao vinte e cinco de abril que o vinte e cinco de abril não tem.

 

publicado às 10:09

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