As mães de hoje em dia são ridículas
As mães de hoje em dia são ridículas. É uma generalização, bem o sei. É algo abundantemente injusto de se dizer, também tenho consciência disso. E, todavia, é preciso que se diga! É preciso que se diga a plenos pulmões!
Peço encarecidamente ao leitor, portanto, que não disperse já, que continue comigo, nestas linhas, um pouco mais.
Nem todas as mães são ridículas mas, hoje em dia, uma boa parte delas é. O que lhes atribui a classificação de ridículo é, com efeito, o que lhes atribui a condição de mãe. O ridículo nota-se na forma como tratam os filhos. Observem um pouco. Prestem atenção. Provavelmente uma grande parte de vós sabe perfeitamente ao que me refiro. As mães contemporâneas tratam os filhos como se eles fossem bonecos e como se, elas próprias, fossem meninas com idade para brincar com bonecos.
Para estas mães, os seus filhos são muito literalmente o centro do universo e estes crescem e desenvolvem-se a acreditar piamente nisso mesmo. Esta crença interfere decisivamente no desenvolvimento das amizades e do espírito de solidariedade e de camaradagem entre pares. Mais: esta crença afeta seriamente a construção de uma certa ideia de igualdade. Questionamo-nos frequentemente sobre a razão de ser do crescente individualismo das sociedades ocidentais. Questionamo-nos frequentemente sobre a razão de ser desta sociedade competitiva e desumana em que vivemos. Por ventura, a resposta achar-se-á aqui e não noutro lugar.
Quando estas crianças, enfim, descobrem não ser o centro do universo como lhes prometeram durante toda a sua infância, que não são uma espécie de diamentes que merecem constante polimento, ficam muito admiradas e deprimidas com o mundo. Todavia, este despertar para o mundo real será sempre parcial. Subsistirá sempre uma certa forma de ver a sociedade, individual, egoísta, uma forma de avaliar o outro e os outros por contraponto ao seu próprio interesse. Estas são as sementes nefastas que ficam para erigir a sociedade destas crianças feitas, inevitavelmente, homens. Este é o problema.
Há quem diga que esta forma de criar e de educar das mães contemporâneas advém do facto destas atingirem a maternidade muito mais tarde nas suas vidas. Quando no passado as mulheres eram mães antes dos vinte, agora são-no mais perto dos quarenta. É talvez um sentimento de singularidade que supera qualquer outro no nascimento do filho que faz com que a mãe adquira traços de superproteção. Pode ser que muitas das mães contemporâneas vejam nos seus filhos uma possibilidade de realização pessoal algo doentia que talvez não existisse no passado. Pode ser isso ou pode não ser nada disto.
Há uma outra possibilidade: podem ser os pais. Há uma passagem em A Leste do Paraíso que me pôs a pensar.
Adam aquiesceu e os dois rapazes saíram a correr. Samuel seguiu-os com o olhar.
— Parecem ter mais de onze anos — disse ele. — Se bem me recordo, os meus filhos, aos onze anos, eram mais traquinas. Estes dois parecem adultos.
— A sério? — perguntou Adam.
— Acho que sei porque é — disse Lee. — É que não há mulher nenhuma em casa para gostar das crianças. Não me parece que os homens apreciem muito as crianças, e por isso estes rapazes nunca perceberam que vantagem tinham em se portarem como tal, pois nada tinham a ganhar com isso. Gostava de saber se isto é bom ou mau.
in A Leste do Paraíso, John Steinbeck
Realmente, parece que os pais contemporâneos deixaram um pouco a sua condição de pais. Parece que faz falta às crianças de hoje em dia terem aquela figura de alguma severidade e intransigência nas suas vidas, para conhecerem limites, para respeitarem regras, para com elas formarem o seu caráter.
Acaso o problema não estará no facto das mães de hoje em dia serem ridículas. Se calhar sempre o foram em dosagem possivelmente diferente. Por ventura, o problema estará nos pais que, hoje em dia, não sabem qual o seu papel, desempenhando muitas vezes as funções de uma espécie de segunda mãe em vez das de um pai.