Armadilha? Já caímos nela!
É preciso que se saiba com clareza o que é a armadilha, não para evitarmos cair nela, porque já o fizemos, mas para saber do que se trata, para um dia dela podermos sair e para nela não voltarmos a cair.
Hoje, dezassete de setembro de dois mil e quinze, a escola e a saúde públicas estão reduzidas a metade do que já foram. Ao longo dos últimos anos, os sucessivos governos PS, PSD, PSD-CDS, fecharam no setor público valências várias para as subconcessionar ao setor privado. Centenas de escolas privadas floresceram com novos cursos subsidiados pelo dinheiro estatal, transferido diretamente das unidades públicas encerradas, e o mesmo se passou com os hospitais privados que proliferaram como cogumelos ao abrigo de idênticas promiscuidades de dinheiros públicos, de utentes do serviço público incentivados a utilizar os serviços privados.
Hoje, dezassete de setembro de dois mil e quinze, começa-se a ver o efeito da armadilha supra descrita. Muitas instituições de ensino privadas veem os seus subsídios reduzidos, limitados, retardados ou negados e muitos alunos que foram empurrados para essas escolas veem o seu futuro imediato em risco. Por outro lado, a saúde privada intensifica a procura por lucros à custa dos utentes desviados do serviço nacional de saúde, serviço esse que se vai desqualificando e desertificando a cada ano que passa, mostrando-se incapaz e impotente para receber de volta, eventualmente, os utentes perdidos. O povo caminha para a lógica do “utilizador pagador” e, sendo uma opção tão válida como outra qualquer, é necessário que se assuma o lema com clarividência e transparência, para se assumir, então, todas as responsabilidades do que daí resultar.
A armadilha foi lançada com sucesso e o povo português nela caiu como uma ovelha. Cada ano que passar assistirá a um agravar natural do problema quer no setor educativo, quer no setor da saúde. O precipitar da situação do país e o desequilibrar violento da balança social ameaça cruzar uma linha de não retorno, se acaso essa linha não tenha sido já pisada, que fará com que o inverter da situação, o resolver do problema, não possa mais ser operado no domínio da diplomacia.