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Porto de Amato

Porto de abrigo, porto de inquietação, porto de resistência.

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A TAP como um barómetro sobre o movimento sindical e a luta de massas

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image: http://fav.me/d1amoql

 

Na antecâmara de uma violenta ofensiva sobre os trabalhadores da TAP, ofensiva essa que vem sendo preparada com cuidado nos jornais, nas televisões, por jornalistas, comentadores e membros do governo, é interessante olhar para o terreno e analisar como é que os trabalhadores se preparam para enfrentar a onda de despedimentos que se avizinha, bem como o processo de abatimento da empresa onde trabalham.

 

Neste particular, foi elucidativo escutar o que tinham a dizer os representantes de alguns sindicatos setoriais de trabalhadores da TAP. Um deles afirmava não estar muito preocupado, pois o seu setor já trabalhava há muito em permanente défice de mão de obra, logo os despedimentos deveriam incidir sobretudo sobre outros trabalhadores. Outro, de outro sindicato, também aparentava calma e descontração, pois, no seu setor, a dispensa de pessoal subcontratado ou de trabalho temporário deveria ser suficiente para impedir despedimentos. E assim foi, um depois do outro, nesta mesma toada. Todos concordavam com o princípio da discussão elevando-o à condição de axioma: a TAP crescera demais e tinha que reduzir rotas e pessoal.

 

A situação presente da TAP apresenta-se, pois, como um barómetro sobre o movimento sindical e, mais geralmente, sobre a luta de massas. No momento em que os trabalhadores deveriam estar unidos como um todo, como um corpo só, “unidos como os dedos da mão” como canta o poeta, falando alto a uma só voz, é quando se acovardam e apontam os seus dedos uns aos outros como quem diz “leve-o a ele e não a mim”. No fundo, é visível, muitos dos sindicatos assumiram nos últimos anos o individualismo crescente na sociedade e dos seus associados, preocupando-se em lutar pela conquista individual ou de um restrito grupo em detrimento de um luta coletiva pelos direitos de todos. O sindicalismo está individualizado e egoísta. Nestes moldes, não existe luta de massas, nem luta de classes. Ideologicamente, é um sindicalismo sem base, que assume a narrativa patronal e não questiona ou contrapõe, concentrando-se na minoração de perdas entendidas como inevitáveis e na obtenção de migalhas das negociações que possam ser usadas como bandeiras.

 

Este tipo de discurso que ouvi de alguns dos sindicatos de trabalhadores da TAP seria impensável há uns anos. Os sindicatos costumavam ser promotores de uma certa consciência de classe, formadores de uma certa ideologia. Hoje, o panorama do sindicalismo está severamente transformado para pior, altamente fragmentado, ideologicamente desinvestido e desorientado, descomprometido socialmente, inspirado em ideias peregrinas de diálogo e de paridade com o patronato que nunca na história produziram resultados em favor dos trabalhadores e do progresso do bem estar da humanidade. Costumava-se dizer que “a união faz a força”. A TAP mostra que, nos dias de hoje, tal união é manifestamente impossível.

publicado às 10:03

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