A maior crise de sempre do jornalismo
Abri hoje o Público para dar de caras com um editorial, assinado pelo diretor do jornal, no qual se ensaia um muito pouco convincente contraponto àquela tese que tem vindo a ser veiculada de que o jornalismo viverá atualmente a sua maior crise de sempre. Pode parecer estranho chamar-se de tese a uma afirmação que aparenta não carecer de demonstração, mas mantem-se a terminologia por respeito a uma abordagem minimamente científica.
Se o jornalismo vive ou não a sua maior crise de sempre, não é realmente muito relevante. O que interessa mesmo é constatar que a maior parte do jornalismo atual é uma espécie de escória, uma amálgama de sujidade desprovida de princípios ou de caráter. Veja-se o sucesso que a página do Facebook Os Truques da Imprensa Portuguesa tem tido, denunciando a forma como as notícias são criadas, a parcialidade com que a realidade é descrita, clarificando, no fundo, o papel de lavagem cerebral ao qual a generalidade dos media se devota no seu dia-a-dia. Questionar se é pior agora do que há cinquenta anos, se agora fede mais a mediocridade intelectual do que antes, até pode constituir uma discussão interessante, mas não será, seguramente, a mais relevante das discussões.
É que a realidade é esta e é indesmentível. A realidade é que os jornalistas fazem o papel, mais ou menos voluntário, de escrever o que lhes é ditado superiormente e aquela ideia inocente do jornalismo enquanto sinónimo de informação não é mais que uma ilusão, uma quimera que nos é semeada no subconsciente desde tenra idade. E é aqui que é importante que se diga que o problema do jornalismo é justamente a existência de diretores de jornais, de diretores editoriais, de chefes de redação sem competência, sem currículo para ocuparem os lugares que ocupam e que só os ocupam por serem excelentes yes man's, excelentes vozes do dono. O parco currículo que detêm, construído precisamente do modo descrito, denuncia o seu papel em todo este processo que resulta neste tipo de jornalismo e no seu estado atual.
Poupem-nos, portanto, à habitual linha argumentativa dos Velhos do Restelo. Não cola.